Trump tenta barrar verba para testes e transfere aos Estados combate à covid-19

Trump tem questionado repetidamente a necessidade de realizar testes generalizados de coronavírus, argumentando que, se houvesse menos exames, o número de infecções seria menor
Agência Estado
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Publicado em 21/07/2020 às 9:21
Nos jardins da Casa Branca, Trump afirmou neste sábado que Amy Coney Barrett é notável pelo caráter e intelecto e qualificada para o trabalho Foto: CHIP SOMODEVILLA/AFP


Com o país superando os 60 mil novos casos de covid-19 todos os dias, o presidente Donald Trump resolveu articular no Congresso o bloqueio de verbas para a compra de testes da doença. Além disso, desde o começo da pandemia, ele e assessores têm se movimentado para passar a responsabilidade de conter as infecções aos Estados e, dessa forma, se eximir da culpa por estratégias fracassadas.
Em abril, em quase todas as manhãs por volta das 8h, Mark Meadows, chefe de gabinete de Trump, convocava um pequeno grupo de assessores para orientar quais os passos que seriam dados pelo governo para conter o novo vírus. As tratativas iam de produzir mais respiradores e equipamentos de proteção individual para os médicos até providenciar mais testes para a população.
Contudo, outra medida estava no centro da reunião: a de transferir a responsabilidade de liderar a luta contra a pandemia da Casa Branca para os Estados, o que acabou se tornando o cerne de um erro político e também uma tentativa de escapar da culpa pela crise que havia tomado conta do país. Durante esse mesmo período, Trump e sua equipe se convenceram de que o surto estava desaparecendo e que haviam dado aos governos estaduais todos os recursos necessários para conter a doença. Era hora, diziam, de suavizar as medidas.
Ao mesmo tempo que especialistas alertaram que a pandemia estava longe de ser controlada, Trump passou a proclamar que só ele tinha autoridade para decidir quando a economia reabriria e iria pressionar os Estados a cumprir suas diretrizes. Quase ninguém deu bola e o presidente começou a criticar os governadores democratas, que se recusavam a afrouxar o confinamento. A aposta de Trump de que a crise desapareceria provou estar errada. O número de novos casos aumentou muito, de mais de 36 mil por dia, em meados de abril, para mais de 63 mil no domingo, dia 19 - na quinta-feira houve o registro de mais de 75 mil.
Uma das armas para conter o vírus é aplicar testes em massa, que Trump também vê com ressalvas. No fim da semana passada, até senadores republicanos mostraram irritação por causa de uma articulação da Casa Branca para barrar US$ 25 bilhões que seriam destinados aos Estados para a compra de exames - o governo acredita que bilhões de dólares em assistência foram destinados aos governos locais e parte desse dinheiro ainda não foi gasta. "Atualmente, o principal gargalo para um grande aumento nos testes é menos técnico. Há sim uma intransigência da Casa Branca", disse Sam Hammond, especialista do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, da sigla em inglês).
Trump tem questionado repetidamente a necessidade de realizar testes generalizados de coronavírus, argumentando que, se houvesse menos exames, o número de infecções seria menor, o que contraria qualquer diretriz sanitária de especialistas em infecções. O governador de Maryland, o republicano Larry Hogan, disse que bloquear novos financiamentos para testes era uma "má ideia".
Nesta segunda-feira, 20, dois principais republicanos do Congresso, os senadores Mitch McConnell e Kevin McCarthy, se reuniram com Trump e com o secretário do Tesouro, Steven Mnuchin. A ideia era convencer que o corte da verba prejudicaria o combate à pandemia.
A Casa Branca defende a política de Trump. Judd Deere, porta-voz do governo, disse que o presidente impôs restrições de viagem à China no início da pandemia, assinou medidas de alívio econômico e ainda supriu com equipamentos de proteção individual todos os profissionais, além de ter bancado a realização de testes e iniciado o desenvolvimento de uma vacina.
Em uma entrevista em 10 de abril, Trump previu que o número de mortes nos Estados Unidos por causa da pandemia seria "substancialmente" inferior a 100 mil. Até domingo, o número de mortos era de mais de 143 mil.

Entrevistas coletivas

Segundo assessores, Trump não tem mais participado das reuniões da força-tarefa da Casa Branca de combate ao coronavírus "por não ter tempo". No entanto, ele disse na segunda que irá retomar suas entrevistas coletivas ao fim da tarde. A primeira deve ocorrer nesta terça-feira. "Eu fazia esses briefings e havia muito interesse, com muitas pessoas assistindo", afirmou. "É uma ótima maneira de divulgar informações ao público sobre como estão as pesquisas de nossas vacinas e também dos tratamentos", afirmou o presidente.
Trump suspendeu seus briefings depois de uma declaração em abril, na qual sugeriu que os cientistas testassem se desinfetantes, como alvejantes, poderiam ser injetados dentro do corpo humano para combater o coronavírus. A força-tarefa realizou apenas dois briefings públicos recentes, com o vice-presidente dos EUA, Mike Pence, assumindo o microfone.
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