Pesquisas sobre buracos negros rendem o Prêmio Nobel de Física deste ano

O secretário-geral da Academia Real de Ciências da Suécia, Göran Hansson, afirmou que o prêmio deste ano é "sobre os mais escuros segredos do universo"
Agência Estado
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Publicado em 06/10/2020 às 8:35
Roger Penrose da Grã-Bretanha, Reinhard Genzel da Alemanha e Andrea Ghez dos EUA ganharam o Nobel Prêmio de Física na terça-feira por sua pesquisa sobre buracos negros, disse o júri do Nobel Foto: FREDRIK SANDBERG / TT NEWS AGENCY / AFP


Pesquisas sobre buraco negro e segredos da Via Láctea renderam o Prêmio Nobel de Física 2020 para os pesquisadores Roger Penrose, Reinhard Genzel e Andrea Ghez. Penrose receberá metade do prêmio, pela "descoberta da formação de buraco negro em uma robusta previsão da Teoria da Relatividade Geral". Genzel e Andrea receberão a outra metade pela "descoberta de um objeto supermaciço no centro da nossa galáxia". O secretário-geral da Academia Real de Ciências da Suécia, Göran Hansson, afirmou que o prêmio deste ano é "sobre os mais escuros segredos do universo".
Os três foram escolhidos, de acordo com o comitê do Nobel, por suas descobertas sobre um dos fenômenos mais exóticos do universo, o buraco negro. "Roger Penrose mostrou que a teoria geral da relatividade leva à formação de buracos negros. Reinhard Genzel e Andrea Ghez descobriram que um objeto invisível e extremamente pesado governa as órbitas das estrelas no centro de nossa galáxia. Um buraco negro supermaciço é a única explicação atualmente conhecida", indica o comitê.
Penrose é professor da Universidade de Oxford, no Reino Unido. Genzel é pesquisador do Instituto Max Planck para Física Extraterrestre, na Alemanha, e Andrea é pesquisadora da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, nos EUA.
Penrose usou métodos matemáticos engenhosos para provar que os buracos negros são uma consequência direta da Teoria da Relatividade Geral de Albert Einstein. "O próprio Einstein não acreditava que, de fato, existiam buracos negros - esses monstros super pesados capazes de capturar qualquer coisa nas proximidades. Nada escapa, nem mesmo a luz", escreveu o comitê.
Em janeiro de 1965, dez anos depois da morte de Einstein, Penrose provou como os buracos negros podem se formar e os descreveu em detalhes. No centro, os buracos negros escondem uma particularidade: ali, todas as leis da natureza deixam de valer. Segundo o comitê do Nobel, o artigo que ele escreveu descrevendo os buracos negros até hoje é visto como a mais importante contribuição para a Teoria da Relatividade Geral desde Einstein.
Reinhard Genzel e Andrea Ghez lideram grupos de astrônomos que, desde o início dos anos 90, estão focados no estudo de uma região no centro da nossa galáxia chamada de Sagittarius A. As órbitas dos estrelas mais brilhantes próximas ao centro da Via Láctea foram mapeadas com grande precisão. E as medições dos dois grupos são idênticas: ambos encontraram um objeto invisível, extremamente pesado, que suga as estrelas em um vórtice, fazendo com que elas assumam velocidades cada vez maiores.
Andrea é a quarta mulher na história a receber o Nobel de Física. A pioneira foi Marie Curie, em 1903 (que depois receberia também o Nobel de Química, em 1911 - única mulher a ser laureada duas vezes). Em 1963, o prêmio foi para Maria Goeppert-Mayer. Em 2018, Donna Strickland. "Eu levo muito a sério a responsabilidade de ser a quarta mulher a receber o Prêmio Nobel. Espero poder inspirar outras jovens mulheres neste campo. É uma área que tem tantos prazeres. E se você é apaixonada por ciência, há tanto que pode ser feito", disse Andrea, que fez uma participação especial na coletiva de imprensa de divulgação do prêmio.
Questionada sobre o que são os buracos negros, ela admitiu: "não sabemos. Não sabemos o que tem dentro dos buracos negros, é isso que faz deles objetos tão exóticos. Eles realmente representam um colapso no nosso entendimento das leis da Física. Isso é parte do que ainda nos intriga e que nos empurra para tentar compreender o mundo físico".

Conheça os laureados deste ano

- Roger Penrose nasceu em 1931 em Colchester, Reino Unido. Conseguiu seu Ph.D. em 1957 na Universidade de Cambridge, também no Reino Unido. É professor da Universidade de Oxford.
- Reinhard Genzel nasceu em 1952 em Bad Homburg vor der Höhe, Alemanha. Obteve seu Ph.D. Em 1978 na Universidade de Bonn. É diretor do Instituto Max Planck de Física Extraterrestre, em Garching, Alemanha, e professor da Universidade da Califórnia, Berkeley, EUA.
- Andrea Ghez nasceu em 1965 na cidade de Nova York, EUA. Obteve seu Ph.D. em 1992 no Instituto de Tecnologia da Califórnia em Pasadena, também EUA. É professora da Universidade da Califórnia, em Los Angeles.

Vencedores dos últimos dez anos

  • 2020: Roger Penrose (Reino Unido), Reinhard Genzel (Alemanha) e Andrea Ghez (EUA) por suas pesquisas sobre os buracos negros e os segredos de nossa galáxia.
  • 2019: James Peebles (Canadá-Estados Unidos) e Michel Mayor e Didier Queloz (Suíça) por suas descobertas teóricas em cosmologia física e pela descoberta de um exoplaneta ao redor de uma estrela do tipo solar, respectivamente.
  • 2018: Arthur Ashkin (Estados Unidos), Gérard Mourou (França) e Donnna Strickland (Canadá) por suas pesquisas no campo do laser que abriram o caminho para a criação de instrumentos de precisão avançada na medicina e na indústria.
  • 2017: Rainer Weiss, Barry Barish e Kip Thorne (Estados Unidos) pela observação das ondas gravitacionais, que confirma uma previsão de Albert Einstein em sua teoria geral da relatividade.
  • 2016: David Thouless, Duncan Haldane e Michael Kosterlitz (Reino Unido) por seus trabalhos sobre os isolantes topológicos, materiais "exóticos" que podem permitir em um futuro mais ou menos próximo criar computadores superpotentes.
  • 2015: Takaaki Kajita (Japão) e Arthur B. McDonald (Canadá), pela descoberta das oscilações dos neutrinos, que demonstram que estas enigmáticas partículas têm massa.
  • 2014: Isamu Akasaki e Hiroshi Amano (Japão) e Shuji Nakamura (Estados Unidos), inventores do diodo emissor de luz (LED).
  • 2013: François Englert (Bélgica) e Peter Higgs (Reino Unido), por trabalhos sobre o bóson de Higgs, também conhecido como 'partícula de Deus'.
  • 2012: Serge Haroche (França) e David Wineland (Estados Unidos), por pesquisas em óptica quântica que permitiram a criação de computadores superpotentes e relógios com precisão extrema.
  • 2011: Saul Perlmutter e Adam Riess (Estados Unidos), Brian Schmidt (Austrália/EUA), por suas descobertas sobre a expansão acelerada do universo.
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