Biden se aproxima da Casa Branca e Trump recorre aos tribunais

Para chegar à Casa Branca é necessário obter 270 dos 538 votos do Colégio Eleitoral, segundo o sistema norte-americano de sufrágio universal indireto
AFP
Publicado em 05/11/2020 às 16:06
Joe Biden lidera o placar parcial com 253 delegados contra 214 de Trump. Foto: DREW ANGERER / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / GETTY IMAGES VIA AFP


Os Estados Unidos continuam nesta quinta-feira (5) sem saber quem será seu próximo presidente: dois dias após as eleições, o candidato democrata Joe Biden manteve sua vantagem sobre o presidente republicano Donald Trump, que denunciou fraude e anunciou vários processos questionando a contagem de votos.

 

O ex-vice-presidente de Barack Obama se aproxima da Casa Branca após ser declarado vencedor em Michigan e Wisconsin, e avançar em Pensilvânia e Geórgia, embora tenha perdido terreno no Arizona. Esses estados, todos vencidos por Trump em 2016, são a chave para a vitória na eleição.

Biden soma 253 ou 264 votos no colégio eleitoral, e Trump, 214. Para chegar à Casa Branca é necessário obter 270 dos 538 votos do Colégio Eleitoral, segundo o sistema norte-americano de sufrágio universal indireto.

A diferença de 11 votos no colégio eleitoral para Biden se deve ao fato de que na noite da eleição, a agência AP e a rede Fox News lhe deram a vitória no Arizona, mas outros meios de comunicação garantem que o resultado permanece indefinido.

Dependendo dos dois cenários, Biden só precisa de seis ou 17 votos no colégio para atingir o número mágico, que poderá obter em Nevada (6), Geórgia (16) ou Pensilvânia (20) talvez ainda nesta quinta-feira.

"Acho que será um dia muito positivo", disse a gerente de campanha democrata, Jennifer O'Malley Dillon.

Biden, de 77 anos, liderava em Nevada com uma vantagem mínima de 8.000 votos com 86% dos votos apurados. Neste estado, onde Hillary Clinton venceu em 2016, muitos dos votos pendentes vêm de áreas que tendem a votar nos democratas.

Trump, de 74 anos, liderava a corrida na Geórgia e na Pensilvânia, embora Biden tenha diminuído a diferença nas últimas horas.

A Geórgia tem sido um reduto republicano tradicional, mas pode cair nas mãos dos democratas pela primeira vez desde o triunfo de Bill Clinton em 1992.

Na Pensilvânia, o estado natal de Biden, Trump liderava com 91% dos votos, mas estima-se que os votos pelo correio que ainda precisam ser contados irão principalmente para os democratas.

A pedido da campanha de Trump, um juiz ordenou que as autoridades locais permitissem que observadores republicanos entrassem no centro de convenções da Filadélfia onde as cédulas são contadas.

Disputa na apuração 

Trump, que horas depois do fechamento das urnas na terça-feira se declarou o vencedor e ameaçou ir à Suprema Corte para provar o que ele considera uma "fraude", pediu na quinta-feira que a apuração fosse encerrada.

"Qualquer voto que vier após o dia da eleição não será contado!", tuitou, ganhando uma nova hashtag de conteúdo "enganoso" da rede social.

Trump anunciou uma ação legal em vários estados em disputa à medida que a liderança de Biden no Colégio Eleitoral aumentava.

A campanha pela reeleição do presidente disse que desafiará a contagem em Geórgia, Michigan e Pensilvânia e exigirá a recontagem em Wisconsin, onde Biden venceu por apenas 20.000 votos.

Sem se declarar vencedor, Biden se mostrou confiante e insistiu em que "todos os votos devem ser contados".

"Estou aqui para dizer que quando a apuração terminar, acreditamos que seremos os vencedores", disse ele na quarta-feira, buscando projetar calma e unidade em um país marcado pela polarização e pelo flagelo da pandemia de covid-19.

"Temos que parar de tratar nossos oponentes como inimigos", disse em um breve discurso em sua casa em Wilmington, Delaware.

Protestos de ambos os lados 

Os partidários de Trump insistiram na quarta-feira que a apuração deve continuar no Arizona e em Nevada, onde o presidente está perdendo.

"Contem os votos!", gritaram em frente a um escritório eleitoral no condado de Maricopa, onde fica Phoenix, capital do Arizona.

"Parem de contar!", gritaram em Detroit, a principal cidade de Michigan, onde a vitória de Biden já havia sido exibida.

Em Portland, Oregon, um dos epicentros da onda de protestos antirracistas e contra a violência policial este ano, uma tensa manifestação anti-Trump deixou pelo menos 10 detidos. "Queremos Trump fora", gritou um dos manifestantes.

Em Nova York, milhares de apoiadores de Biden marcharam pacificamente pela Quinta Avenida para exigir "a contagem de cada um dos votos".

A contagem está atrasada em particular devido ao número recorde de mais de 100 milhões de votos antecipados, principalmente enviados pelo correio, devido à covid-19.

Os Estados Unidos não vivenciam essa incerteza desde o ano 2000, quando a Suprema Corte acabou julgando a favor do republicano George W. Bush na disputa com o democrata Al Gore.

O mundo observa 

O resultado ainda incerto das eleições nos Estados Unidos fascina e preocupa o mundo inteiro.

"É um espetáculo para se ver!", tuitou o líder supremo iraniano, Ali Khamenei, em uma mensagem em espanhol, zombando do que considerou acusações mútuas de fraude dos dois candidatos.

As relações entre Teerã e Washington, em conflito há mais de 40 anos, se deterioraram com a chegada de Trump ao poder.

A Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), acusou Trump de "flagrante abuso de poder" e alertou contra as limitações ao direito de voto.

A Rússia também expressou temor de que uma eleição disputada possa gerar agitação.

No entanto, Trump já recebeu os parabéns do primeiro-ministro da Eslovênia, país de origem da primeira-dama, Melania. "Parece claro que os americanos elegeram Donald Trump", disse Janez Jansa.

Biden, por sua vez, prometeu voltar a incluir os Estados Unidos no Acordo Climático de Paris, do qual o país saiu oficialmente na quarta-feira por ordem de Trump.

Ele disse que o fará "em exatamente 77 dias", em alusão à data da posse presidencial, em 20 de janeiro de 2021.

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