Os 56 milhões de habitantes da Inglaterra entraram nesta terça-feira (5) em seu terceiro confinamento total contra uma pandemia de coronavírus descontrolada, com todas as suas esperanças voltadas para a campanha de vacinação e sem ter muito claro quando vão recuperar a liberdade.
Com mais de 76.300 mortos, o Reino Unido é um dos países da Europa mais castigados pela covid-19.
Diante de uma onda incontrolável de contágios desde a descoberta, em dezembro passado, de uma nova variante aparentemente muito mais transmissível do coronavírus, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, anunciou ontem à noite a necessidade de "um confinamento nacional forte o suficiente para conter esta cepa".
"Nossa habilidade para sair disso rápido dependerá de uma série de coisas", como a distribuição e eficácia das vacinas, mas "principalmente que todos sigam as recomendações", enfatizou Johnson em coletiva de imprensa nesta terça-feira.
Para explicar a gravidade da situação, o próprio Johnson comparecerá nesta terça-feira à tarde em coletiva de imprensa.
Os deputados retornarão das férias na quarta-feira para votar a medida, que, no entanto, já terá entrado legalmente em vigor nessa mesma madrugada e que o Executivo, aumentando a confusão, pediu à população que a cumpra a partir desta terça: "a partir de hoje, devem ficar em casa, com poucas exceções", como comprar comida, ou fazer exercícios, anunciou o Twitter de Downing Street nesta manhã. A confusão é ainda maior sobre quando terminará o confinamento.
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Johnson, que ao contrário do segundo confinamento de novembro optou desta vez por fechar todas as escolas, insinuou na segunda-feira que poderá durar seis semanas, até as próximas férias escolares, de 15 a 21 de fevereiro.
Um de seus porta-vozes afirmou depois, porém, que "qualquer mudança" decidida pelo Executivo nessa semana entraria em vigor apenas "no fim das férias, ou seja, em sete semanas".
Hoje, o ministro Michael Gove, encarregado de coordenar a ação governamental, disse ao canal Sky News: "No início de março, deveremos levantar algumas dessas restrições, mas não necessariamente todas".
"Faremos tudo o que pudermos para vacinar o máximo de pessoas possível e que possamos começar a levantar progressivamente as restrições", afirmou Gove, anunciando que as próximas semanas serão "muito, muito difíceis".
A alarmante propagação da nova variante do vírus, entre 50% e 70% mais contagiosa segundo cientistas britânicos, faz temer um colapso do sistema de saúde não apenas na Inglaterra.
Na Escócia, o governo semiautônomo da premiê Nicola Sturgeon impôs seu próprio confinamento total a partir desta terça-feira e durante todo o mês de janeiro. Gales já estava completamente confinada desde 20 de dezembro e Irlanda do Norte considerava aumentar suas restrições.
Neste contexto, a única esperança é acelerar uma campanha de vacinação em que o Reino Unido foi pioneiro. Desde 8 de dezembro, já vacinou mais de 1,3 milhão de pessoas com a vacina desenvolvida pela Pfizer/BioNTech e, na segunda-feira (4), começou a administrar também a da parceria britânica AstraZeneca/Universidade de Oxford, da qual encomendou 100 milhões de doses.
Com uma forte aceleração, as autoridades esperam ter vacinado para meados de fevereiro todas as pessoas de mais de 70 anos, além de profissionais da saúde e outros cuidadores - quase 14 milhões de pacientes no total.
"Deveria ser possível alcançar níveis de vacinação de 300.000 a 500.000 doses diárias", considerou Nilay Shah, chefe do departamento de engenharia química do London Imperial College.
"O calendário de vacinação é realista, mas não é fácil", reconheceu em coletiva de imprensa o médico do governo, Chris Whitty.