A chanceler alemã Angela Merkel começou a percorrer, neste domingo (18), áreas devastadas pelas piores inundações "do século" na Europa Ocidental, que deixaram ao menos 190 mortos em seu país e na Bélgica e dezenas de desaparecidos, além de danos consideráveis.
Com uma expressão séria no rosto, Merkel chegou pouco antes das 13h00 locais (08h00 no horário de Brasília) na cidade de Schuld, no estado de Renânia-Palatinado, um dos dois mais atingidos no oeste da Alemanha, onde o transbordamento do rio Ahr destruiu casas e deixou as ruas cheias de escombros, segundo imagens da televisão.
"É uma situação surreal e fantasmagórica. Diria até que o idioma alemão tem dificuldade em encontrar palavras para descrever a devastação que foi causada", disse Merkel em coletiva de imprensa.
"Não digo que uma inundação seja o exemplo da mudança climática, mas se observarmos os danos dos últimos anos, são simplesmente maiores que no passado", acrescentou a chanceler, que pediu um "esforço muito grande" e para acelerar as políticas climáticas.
Ao menos 159 pessoas morreram desde quarta-feira nas piores inundações na história recente da Alemanha, e outras 31 morreram na Bélgica.
Equipes de resgate dos dois países buscam sobreviventes entre os escombros, em condições perigosas.
As chuvas extremas também afetaram a Suíça, Luxemburgo e Holanda.
O papa Francisco manifestou sua "solidariedade" neste domingo às populações afetadas.
As águas começaram a baixar em Renânia-Palatinado e Renânia do Norte-Vestfália (RNW) e a preocupação se voltou agora para a região sul de Alta Bavária, onde as fortes chuvas inundaram porões e provocaram transbordamentos de rios e riachos na noite de sábado.
Uma pessoa morreu na fronteira de Berchtesgadener Land, disse à AFP uma porta-voz do distrito bávaro.
Na Áustria, trabalhadores de emergência nas regiões de Salzburgo e Tirol se mantinham em alerta de inundações. A cidade histórica de Hallein, perto da fronteira com a Alemanha, estava coberta de água.
Merkel classificou as inundações como uma "tragédia" e prometeu apoio do governo para os municípios alemães afetados.
O governo alemão informou que pretende criar um fundo especial para atender os danos, cujo custo poderia alcançar os bilhões de dólares.
O desastre teve fortes conotações políticas na Alemanha, que realizará eleições gerais em 26 de setembro, marcando o fim dos 16 anos de Merkel no poder.
Especialistas afirmam que o aquecimento global faz com que os eventos climáticos extremos se tornem mais frequentes e os candidatos que buscam suceder Merkel pedem mais ações climáticas.
Armin Laschet, chefe de governo do golpeado estado de Renânia do Norte-Vestfália e favorito na disputa para chanceler, pediu para acelerar o combate à mudança climática.
Mas Laschet, líder do partido de Merkel que lidera as pesquisas, teve sua imagem manchada no sábado quando foi gravado rindo da devastada cidade de Erftstadt, onde as inundações provocaram um aterro.
Nas imagens, Laschet conversava e ria no fundo enquanto o presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, expressava sua dor às famílias afetadas.
"Laschet ri enquanto o país chora", publicou o jornal Bild.
O dirigente se desculpou posteriormente no Twitter pelo momento "inadequado".
Mais de 300 pessoas continuavam desaparecidas no sábado à noite somente na cidade de Bonn (Renânia do Norte-Vestfália), onde vivem cerca de 600.000 habitantes.
Do outro lado da fronteira, na Bélgica, o número de mortos subiu para 31 com várias pessoas ainda desaparecidas.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e o primeiro-ministro Alexander de Croo, visitaram no sábado as áreas inundadas de Rochefort e Pepinster, na Bélgica.
"A Europa está com vocês", tuitou Von der Leyen após a visita. "Acompanhamos sua dor e estaremos com vocês na reconstrução".
A Bélgica declarou um dia oficial de luto na terça-feira.