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A história de um homem que se salvou por um triz no 11 de setembro

Al Kim se salvou por um triz quando a torre sul do World Trade Center desabou em uma enxurrada infernal de aço e pó em 11 de setembro de 2001

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AFP

Publicado em 11/09/2021 às 2:07 | Atualizado em 11/09/2021 às 2:07
O paramédico Kim chegou dirigindo às 9h05 às Torres Gêmeas, após a colisão de dois Boeings - REPRODUÇÃO DE VÍDEO/AFP

Al Kim se salvou por um triz quando a torre sul do World Trade Center desabou em uma enxurrada infernal de aço e pó em 11 de setembro de 2001. A tragédia o abalou, mas lhe ensinou que a vida é fugaz e que é preciso pôr os problemas "em perspectiva".

Kim, um paramédico de 37 anos das MetroCare Ambulances no Brooklyn, chegou dirigindo às 09h05 às Torres Gêmeas, no sul de Manhattan, após a colisão de dois Boeings sequestrados por jihadistas contra os arranha-céus.

Pediram-lhe que se encarregasse da evacuação dos feridos no lobby do hotel Marriott, situado entre as duas torres. Mas às 09h59, ele ouviu um forte estrondo, como o de um trem em alta velocidade. Instintivamente, se atirou debaixo de uma caminhonete estacionada sob uma ponte para pedestres.

"Não posso acreditar que vou morrer assim", pensou.

A torre sul tinha desabado.

"Não conseguia respirar" 

"Não conseguia respirar de tão ácido que o ar estava. Lembro de usar minha camiseta para tapar a boca. Não conseguia ver minhas mãos junto ao meu rosto", contou à AFP quase 20 anos depois, ao percorrer, emocionado, pela primeira vez a esplanada do Museu e Memorial do 9/11.

A onda de calor queimou os pelos do seu nariz, suas vias respiratórias superiores e parte de sua sobrancelha esquerda. Seus olhos estavam feridos e todo o seu corpo ficou coberto por uma grossa camada de cinzas.

De repente ouviu as vozes de dois colegas, os localizou e se deram as mãos "como meninos da escola". Foi assim que avançaram em meio à escuridão total, entre escombros e chamas.

"Enquanto caminhávamos para onde estava mais claro, os alarmes nos invadiam", lembrou. Era o som dos sensores usados por dezenas de bombeiros, ativados quando não há movimento por certo tempo.

Ouviram gritos de que havia um bombeiro ferido e foram procurá-lo.

Ele se chamava Kevin Shea e tinha o pescoço fraturado em três lugares. Seu rosto estava coberto de cinzas e estava parcialmente soterrado sob os escombros.

Em estado de alerta 

Shea foi resgatado por Kim e os outros três colegas que o carregaram em uma maca até um local seguro antes do desmoronamento da torre norte. Ele foi o único sobrevivente dos 12 homens da sua brigada que atenderam à emergência.

Desde então, as lembranças de Kim são nebulosas e isoladas.

"Pensei que aquele era o fim do nosso pequeno mundo (...) Tudo o que via ao meu redor era um campo de escombros. Para mim, a cidade inteira estava assim, e inclusive além".

Ele permaneceu na zona destruída até a noite e voltou ao Marco Zero no dia seguinte e por vários outros dias. "Tinha muito o que fazer, funerais para ir (...) Não tinha tempo de parar e refletir".

Ele admite com certa vergonha que durante alguns anos viveu "em estado de alerta constante", com água e comida suficiente em seu carro para sobreviver por duas semanas, e com máscaras de gás.

Resiliência 

"Estava pronto" para outro ataque, conta. "Minha família dizia que eu era como uma tartaruga, dirigindo por todos os lados a minha caminhonete com a minha vida dentro".

Com o tempo, ele conseguiu superar a ansiedade. Mas tem emoções, sentimentos que perduram.

"Os nova-iorquinos foram realmente fortes e resilientes. Não fugiram da cidade. Aguentaram. Eu aguentei", diz, com orgulho, o paramédico, hoje diretor-executivo dos serviços de emergência médica de Westchester, nos arredores de Nova York.

Ele garante que nunca viu tanto patriotismo como ao voltar ao Marco Zero nos primeiros dias.

"Nunca vi nada como a efusão de apoio nacional por Nova York. Até o dia de hoje não há nada que supere".

A tragédia o ajudou a perceber "quão preciosa e frágil a vida é realmente".

"Este ano que passou (com a pandemia) reforça esse sentimento, que as coisas são fugazes. Tem coisas difíceis nas nossas carreiras, na vida profissional e pessoal, e ainda são relevantes, mas quando você pensa em termos maiores, põe as coisas em perspectiva", reflete.

Há três anos, ao participar da meia maratona de Nova York com a esposa, passou perto do pilar que sustenta a ponte que salvou sua vida, em geral cercada de trânsito.

Ele correu até lá, o abraçou e beijou antes de voltar a correr.

 

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