As colunas de lava do vulcão Cumbre Vieja continuam engolindo tudo o que encontram em seu caminho, na lenta descida para a costa da ilha de La Palma, no arquipélago espanhol das Canárias (sudoeste), gerando preocupações pela possível emissão de gases tóxicos.
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Uma retomada da atividade do vulcão, que entrou em erupção no domingo (18) à tarde, obrigou a remoção de outras 500 pessoas na noite de segunda-feira, totalizando 6.000 deslocados nesta ilha em frente à costa noroeste da África.
A lava "avança implacavelmente para o mar", lamentou o presidente da região canária, Ángel Víctor Torres, que descreveu "a impotência diante do avanço dessa 'lavagem' (...) que já levou casas nesta região dedicada à agricultura, e que continuará levando outras casas em seu trajeto até o mar".
As impressionantes línguas de lava cinzas e laranjas continuam descendo lentamente do vulcão, destruindo árvores, estradas e casas em seu caminho, segundo as imagens publicadas por autoridades e moradores.
Por enquanto, a erupção do Cumbre Vieja destruiu 166 construções e a lava cobre 103 hectares de La Palma, segundo o sistema europeu de observação espacial Copernicus, que publicou no Twitter uma imagem de satélite da ilha com as áreas afetadas.
O encontro do magma ardente com o mar - inicialmente previsto para segunda-feira à noite, mas adiado devido ao ritmo mais lento de avanço - pode gerar explosões, ondas de água fervente ou inclusive nuvens tóxicas, de acordo com a página do Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS).
"As nuvens criadas pela interação entre a água do mar e a lava são ácidas", explica à AFP Patrick Allard, diretor de pesquisa do instituto francês de Geofísica do Globo, em Paris. "Podem ser perigosas se alguém estiver muito perto", alerta.
A cerca de dois quilômetros do mar, o magma avança agora por volta dos 200 metros por hora. As autoridades não informaram, no entanto, quando poderia chegar ao mar.
Na previsão, o governo regional das Canárias decretou um "raio de exclusão de 2 milhas náuticas" ao redor de onde os fluxos de lava devem chegar, pedindo aos curiosos que não se desloquem à área.
Em La Palma, desde domingo à noite, quando adiou sua saída para comparecer à Assembleia Geral da ONU, o presidente do governo espanhol Pedro Sánchez também pediu prudência: "Temos que tentar evitar a proximidade tanto do magma quanto do próprio vulcão", pediu o presidente, que fará uma viagem relâmpago a Nova York e voará de volta para a ilha.
O rei Filipe VI também visitará La Palma na quinta-feira.
O surgimento de uma nova fissura eruptiva ontem à noite - a nona desde o início da atividade do Cumbre Vieja no domingo - obrigou a remoção de outras 500 pessoas em El Paso, elevando o total de deslocados para 6.000 em toda esta ilha de quase 85.000 habitantes.
Um deles é Israel Castro Hernández, que testemunhou sua casa ser destruída pela erupção - a primeira registrada na ilha desde 1971.
"O vulcão diz 'saio por aqui' e acaba com toda a sua vida praticamente", lamenta este homem de 46 anos, em entrevista à AFPTV.
Junto a ele, sua esposa Yurena Torres Abreu ainda não conseguia assimilar o que aconteceu.
"Continuamos olhando para lá e não conseguimos acreditar. Ainda pensamos que nossa casa está debaixo desse vulcão", contou emocionada. "Não há o que fazer. É a natureza".
O vulcão expele colunas de fumaça que alcançam centenas de metros de altura e entre 8.000 e 10.500 toneladas de dióxido de enxofre por dia, segundo o Involcan. Apesar disso, o espaço aéreo da ilha permanece aberto e espera-se que os 48 voos programados para esta terça-feira sejam tomados com normalidade.
O Cumbre Vieja estava sob forte vigilância há uma semana devido a uma intensa atividade sísmica e, segundo o Involcan, a erupção pode durar "várias semanas ou alguns meses".
"Sabemos quando começou, mas não sabemos o quanto resta", lamentou Juan Aragón, um morador de La Palma que também precisou deixar sua casa.