POLÍTICA

Merkel faz apelo por diálogo aos partidos após eleições na Alemanha

Em balanço de seus 16 anos no poder, chanceler pediu aos alemães que defendam a democracia dos demagogos

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AFP

Publicado em 03/10/2021 às 12:25 | Atualizado em 03/10/2021 às 12:26
"Temos divergências, mas também coisas em comum. Estejam dispostos a reunir-se com os demais [...] e tenham a capacidade de suportar as diferenças", disse Angela Merkel - AFP

A chanceler Angela Merkel fez um apelo implícito aos partidos políticos da Alemanha neste domingo (3) para que superem as divisões após as eleições legislativas, em um contexto de negociações difíceis para a formação do governo.

A chanceler, que de certo modo fazia um balanço de seus 16 anos no poder, em um discurso pronunciado por ocasião do dia nacional da reunificação da Alemanha, em 1990, pediu aos alemães que defendam a democracia dos demagogos.

"Temos que continuar moldando nosso país. Podemos discutir sobre a forma precisa de fazer isto no futuro, mas sabemos que temos a solução, que temos que ouvir a todos, uns aos outros, e dialogar", declarou Merkel, que vai se aposentar da política após a formação do novo governo, algo que pode demorar meses.

"Temos divergências, mas também coisas em comum. Estejam dispostos a reunir-se com os demais [...] e tenham a capacidade de suportar as diferenças", completou em Halle (leste do país). "Esta é a lição de 31 anos de unidade alemã" destacou.

Estas foram as primeiras declarações de Angela Merkel sobre o resultado das eleições e a situação política derivada das urnas.

As negociações exploratórias entre partidos para a formação do novo Executivo começam neste domingo e devem ser muito complicadas.

Muito provavelmente será necessária uma aliança de três partidos com programas muito distintos para alcançar a maioria, o que não acontecia desde a década de 1950.

A opção considerada mais plausível no momento é a de uma coalizão do Partido Social Democrata (SPD), que ficou em primeiro lugar (25% dos votos), com o Partido Verde e o Partido Democrático Liberal (FDP, direita). Esta possibilidade é apoiada por 59% dos alemães, segundo uma pesquisa da emissora ZDF.

As primeiras reuniões entre o partido de centro-esquerda SPD, liderado por Olaf Scholz, os Verdes e o FDP estavam programadas para este domingo.

Mas a centro-direita da chanceler também tenta estabelecer uma aliança com ecologistas e liberais.

Embora os democratas-cristãos da CDU, partido de Merkel, tenham emergido enfraquecidos e divididos de sua derrota eleitoral, a formação planeja se reunir separadamente com o FDP neste domingo e com os Verdes na terça-feira.

O líder da CDU, Armin Laschet, ao qual muitos atribuem o pior resultado eleitoral já registrado pelos conservadores na história da Alemanha moderna (24,1% dos votos), parece cada vez mais ameaçado.

Seus rivais dentro do partido, como Friedrich Merz ou Jens Spahn, que defendem uma linha mais voltada para a direita, já se preparam para uma eventual sucessão de liderança. Outros exigem uma renovação "completa" do partido, após 16 anos de Angela Merkel.

E, neste contexto, mesmo os liberais do FDP, apesar de estarem politicamente mais próximos dos democratas-cristãos, parecem cada vez mais relutantes em uma aliança com a CDU.

 

"A CDU e a CSU (o partido dos conservadores na Baviera) devem explicar se realmente desejam liderar um governo", advertiu o líder dos liberais, Christian Lindner.

Em um clima tenso, Merkel pediu aos alemães que não percam de visa o que, segundo ela, é uma prioridade: a defesa da democracia.

"Às vezes consideramos as coisas muito garantidas quando se trata de conquistas democráticas, como se não tivéssemos que fazer mais nada para defendê-las", lamentou.

"Mas estamos assistindo, atualmente, um número crescente de ataques", declarou, ao citar agressões contra minorias religiosas ou étnicas, e as tentativas "demagógicas de expandir, sem escrúpulos nem vergonha, o ódio e o ressentimento".

Merkel também pediu aos alemães do Oeste que mostrem mais "respeito" para com seus compatriotas do Leste, depois que as eleições legislativas foram marcadas nesta parte do país - a ex-Alemanha Oriental - por um forte apoio à extrema-direita, alimentada pela sensação de parte da população da região de que foi abandonada.

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