Os tubarões que atacam surfistas ou banhistas têm uma visão tão ruim que os cientistas chegaram à conclusão que confundem-nos com suas presas habituais, como focas ou leões marinhos, segundo um estudo divulgado nesta quarta-feira (27).
"Do ponto de vista de um tubarão-branco, nem o movimento nem a forma permitem uma distinção visual inconfundível entre os pinípedes e os seres humanos", escrevem os autores do artigo publicado no Interface, uma revista da Royal Society, destacando que seu trabalho "apoia a teoria do erro de identificação" para explicar certos ataques.
"É o primeiro estudo que analisa essa teoria do ponto de vista visual de um tubarão-branco", disse à AFP sua principal autora Laura Ryan, pesquisadora de ciências biológicas da Universidade Macquarie da Austrália.
Os ataques de tubarões são raros (menos de 60 no mundo em 2020), de acordo com um departamento especializado da Universidade da Flórida nos Estados Unidos. Mas mantêm vivo, segundo o estudo, o medo "desproporcional" associado à ignorância sobre as motivações do animal, especialmente quando o ataque ocorre sem provocação aparente.
Se o tubarão-branco é conhecido por detectar sons e cheiros a uma grande distância, acredita-se que quando está perto confia principalmente na sua visão para identificar e atacar sua presa.
O problema é que o sistema visual do tubarão é quase insensível à cor e tem pouquíssima capacidade para distinguir os detalhes de uma forma. Sua resolução - até seis vezes menor que a do ser humano - é ainda pior para os jovens tubarões-branco, que representam para os surfistas o maior risco de mordidas, segundo o estudo.
Para testar a teoria do erro de identificação, a equipe de Macquarie fez "vídeos a partir do ponto de vista do tubarão e os processou com um programa para imitar" seu sistema visual, particularmente sua capacidade de distinguir uma forma e seu movimento, explica a cientista.
Para isso, gravaram do fundo de uma lagoa imagens e vídeos de um leão-marinho, que passaria perto da superfície alguns metros acima de um tubarão.
Depois compararam suas formas com as dos banhistas e surfistas que nadam, com ou sem movimento de pernas, nos três principais tipos de pranchas de surfe de acordo com seu tamanho.
Do ponto de vista de um jovem tubarão-branco, os sinais de movimento de um nadador ou os de um surfista a bordo de sua prancha são quase impossíveis de diferenciar das de um pinípede, afirma o estudo.
A princípio, a visibilidade no mar seria menor do que na lagoa usada para a experiência.
Quanto à forma, um pinípede com suas nadadeiras dobradas se parece mais com um nadador ou um surfista em uma prancha pequena do que um pinípede com as nadadeiras abertas. "As pranchas grandes se parecem menos" com um pinípede, segundo Ryan, que explica que, no entanto, "houve incidentes de mordidas em pranchas grandes".
Agora os pesquisadores vão tentar determinar se uma "mudança nos sinais visuais de potenciais presas seria uma técnica eficaz de proteção contra os tubarões-branco", continua a cientista.
As soluções precisam "não só impedir as mordidas de tubarões", mas também "não colocar outras espécies marinhas em perigo".
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