CRISE

O que será da Nicarágua no quarto governo consecutivo de Ortega?

A reeleição de Daniel Ortega pelo quarto mandato consecutivo, com seus opositores presos ou no exílio, pode agravar a crise política e econômica na Nicarágua

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AFP

Publicado em 09/11/2021 às 9:53 | Atualizado em 10/11/2021 às 23:59
Daniel Ortega também aumentou a perseguição aos religiosos e à imprensa - CESAR PEREZ / NICARAGUAN PRESIDENCY / AFP

A reeleição de Daniel Ortega pelo quarto mandato consecutivo, com seus opositores presos ou no exílio, pode agravar a crise política e econômica na Nicarágua, em meio a um crescente isolamento internacional.

Um ex-guerrilheiro que governou o país nos anos 1980 contra Washington e voltou ao poder em 2007, Ortega garantiu mais cinco anos na presidência, com 75,92% dos votos no domingo (7), ao vencer cinco candidatos desconhecidos de direita, acusados de colaborar com o governo para validar o processo.

A oposição representativa foi eliminada das eleições pela segunda vez desde as eleições de 2016. Três partidos políticos foram declarados ilegais e, neste ano, 39 opositores acabaram presos, incluindo sete adversários de Ortega.

Ortega respondeu ferozmente na segunda-feira (8), chamando de fascista a União Europeia, que questiona a legitimidade de sua vitória, e os opositores presos, de "f... da puta dos imperialistas ianques".

A comunidade internacional ameaçaram impor sanções ao país, alegando que a reeleição de Ortega não foi democrática. Caso se concretizem, podem fazer o país reviver a difícil década de conflitos e sanções econômicas enfrentada pelo primeiro governo de Ortega,nos anos 1980, segundo analistas.

Sistema de partido único?

Analistas consultados pela AFP concordam em que a Nicarágua consolidará um modelo de partido único com a Frente Sandinista (FSLN, esquerda) controlada por Ortega. Este é o caso, por exemplo, de Cuba, com o Partido Comunista.

Para Ortega, "o regime político ideal é o modelo cubano, porque [ele acredita que] a existência de vários partidos políticos divide a nação", disse o economista e analista Enrique Sáenz.

"Do jeito que as coisas estão, com todos os partidos da oposição na ilegalidade, de fato, já é um regime de partido único", avaliou.

A escritora nicaraguense Gioconda Belli afirma que "a decisão de Ortega de permanecer no poder a qualquer preço (...) sugere que ele instalará um sistema totalmente fechado à oposição nacional e à influência da comunidade internacional".

"Essas eleições fraudadas são uma declaração de guerra contra quem se opõe a ele", previu.

Há condições para um diálogo político?

Em janeiro deste ano, o presidente anunciou que promoveria um diálogo nacional após as eleições, mas não especificou detalhes.

"Um diálogo nessas condições é impossível. Depois de prender a oposição, com quem ele vai conversar?", questionou Belli.

Para o sociólogo Oscar René Vargas, o objetivo de Ortega é, sobretudo, abrir um diálogo para restabelecer sua relação com o grande capital, possivelmente em troca de "um acordo de compartilhamento de cotas de poder no campo econômico".

Ele não descartou "libertar os presos políticos".

"Provavelmente, vai forçar alguns atores, como o grande capital, a estabelecer um espaço de diálogo, mas baseado em vontades sequestradas, sob ameaças e prisões", disse a especialista em segurança e governança Elvira Cuadra.

Entre junho e outubro, em meio à nova onda repressiva contra a oposição, pelo menos quatro empresários foram presos. Entre eles, estão os dois dirigentes do Conselho Superior da Empresa Privada (Cosep).

Para a Anistia Internacional, que condenou a repressão aos protestos de 2018 contra o governo, com mais de 300 mortos, a Nicarágua caminha para "um novo e terrível ciclo para os direitos humanos".

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