Brasil, Estados Unidos e outros países de todas as regiões do mundo anunciaram nesta sexta-feira (26) o fechamento de suas fronteiras para viajantes oriundos do sul da África, após a detecção de uma nova variante de covid-19 potencialmente mais contagiosa batizada de omicron.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou que a cepa B.1.1.529 do coronavírus, chamada de omicron, é uma variante "preocupante", assim como a delta, atualmente dominante, e alfa, beta e gama, detectadas previamente.
A nova mutação, relatada pela primeira vez pela África do Sul em 24 de novembro, já foi identificada na Europa, com um caso confirmado nesta sexta-feira na Bélgica, após ter sido detectada na África do Sul, Botsuana, Hong Kong e Israel.
Das bolsas ao petróleo, os mercados mundiais tombaram com as notícias sobre a nova variante, em meio a temores de um grande golpe contra a recuperação econômica global.
O presidente americano, Joe Biden, disse que a nova variante deve encorajar o resto do mundo a doar mais vacinas para as nações mais pobres, observando que os Estados Unidos "já doaram mais vacinas para outros países do que todos os outros países combinados" e "é hora" de igualar à sua "generosidade".
"Esta pandemia não vai acabar até que tenhamos uma vacinação global", alertou Biden em um comunicado de Nantucket, onde passa o feriado de Ação de Graças.
Biden também pediu aos países que renunciassem às proteções de propriedade intelectual para permitir a fabricação de vacinas em todo o mundo.
Reação de pânico
A Bélgica anunciou nesta sexta-feira o primeiro caso conhecido publicamente de omicron na Europa: uma pessoa não vacinada que retornou em 11 de novembro do Egito via Turquia.
A OMS disse que pode levar várias semanas para determinar se a nova variante acarreta mudanças na transmissibilidade ou gravidade da covid-19, bem como na eficácia das vacinas, testes e tratamentos contra o vírus, e alertou contra a imposição de restrições de viagem enquanto as evidências científicas forem escassas.
Mas muitos países já anunciaram o fechamento de fronteiras para viajantes que chegam da África do Sul, Botsuana, Zimbábue, Namíbia, Lesoto, Eswatini, Moçambique e Malaui.
Nas Américas, Estados Unidos, Canadá, Brasil, Argentina e Guatemala foram os últimos a restringir viagens do sul do continente africano.
A União Europeia (UE) também recomendou que as 27 nações do bloco evitem a entrada de viajantes dessa região do continente africano, apesar de muitos membros, como Áustria, República Tcheca, Alemanha, Itália e Holanda, já terem anunciado a suspensões de voos.
O primeiro país a se proteger foi o Reino Unido, e outros seguiram o exemplo, incluindo Rússia, Suíça, Arábia Saudita e Chipre. Além disso, Filipinas, Emirados Árabes Unidos, Jordânia e Marrocos anunciaram proibições.
O Japão disse que exigirá um período de quarentena de 10 dias para os viajantes do sul da África.
A África do Sul chamou as proibições de "draconianas". "Esse tipo de reação é instintiva e de pânico", criticou o ministro da Saúde, Joe Phaahla.
É um duro golpe para o país, já que as medidas restritivas chegam pouco antes do verão austral, quando safáris e praias costumam atrair um bom número de visitantes.
A nova variante provocou uma queda brusca de Wall Street nesta sexta-feira. O índice referência Dow Jones teve sua pior desvalorização do ano: uma queda de 2,53% desde o fechamento de quarta-feira, antes do feriado de Ação de Graças. A S&P 500 caiu 2,27%, enquanto o índice Nasdaq teve queda de 2,23%.
Os índices europeus sofreram suas piores sessões em mais de um ano: Paris caiu 4,75%, Londres 3,64%, Frankfurt 4,15% e Madri 4,96%.
A queda também afetou os mercados de ações asiáticos e latino-americanos e os preços do petróleo, que caíram mais de 10%.
Em Chicago, os preços do trigo e da soja caíram significativamente.
"Hoje é 'Black Friday' para as vendas no varejo, mas agora é 'Red Friday' (Sexta-feira Vermelha) para o mercado de ações", resumiu o analista Patrick O'Hare, aludindo ao tradicional dia de descontos no comércio.
A empresa de biotecnologia alemã BioNTech e a farmacêutica norte-americana Pfizer informaram que estudam a nova variante, com dados de impacto esperados "no mais tardar em duas semanas" para dizer se a vacina desenvolvida em conjunto deve ser ajustada caso a omicron se espalhe globalmente.
O laboratório americano Moderna, por sua vez, anunciou que vai desenvolver um reforço específico para a nova variante.
O coronavírus já deixou mais de 5,18 milhões de mortes em todo o mundo desde seu surgimento na China no final de 2019, embora a OMS estima que os números reais possam ser muito maiores.
Cerca de 54% da população mundial já recebeu pelo menos uma dose da vacina anticovid, mas em países de baixa renda essa proporção é de apenas 5,6%, segundo o portal Our World in Data.