Na fronteira entre Rússia e Ucrânia, seguem as tensões entre os dois países. Ex-aliadas, as nações travam uma disputa que pode terminar em conflito armado. O capítulo mais recente dessa história é uma ameaça feita pela União Europeia. Representantes do bloco disseram estar prontos para impor à Rússia sanções econômicas "nunca antes vistas".
Durante o Passando a Limpo, da Rádio Jornal, nesta terça-feira (25), o geógrafo e professor João Correia explicou porque o mundo está em alerta com os acontecimentos na Ucrânia e como eles agravam cada vez mais a crise militar entre Rússia e Ocidente.
"Parte da imprensa internacional tenta cravar o dia e hora exata em que teremos conflito em grandes proporções entre a Rússia e a Ucrânia. Na verdade, um conflito entre Rússia e Ocidente, que, ao meu ver, já começou a partir do momento que, em 2014, a Rússia fez a anexação do território da Crimeia e não houve uma reação significativa militar por parte da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), não houve reação significativa por boa parte da comunidade geopolítica internacional. Ali, abriu-se um precedente significativo e o que parece é que nos próximos dias, ou nos próximos meses, o mundo irá assistir a Rússia buscar anexar outras áreas da Ucrânia, principalmente de fronteiras onde a Rússia diz defender seus interesses, pois há uma parcela significativa da população que tem conexão étnica, linguística e cultural com a própria Rússia", afirmou o professor.
Confira o debate na Rádio Jornal sobre a situação na Ucrânia:
Nos últimos dias, líderes da Ucrânia tentaram acalmar a população do país com o argumento de que uma temida invasão russa não é iminente, embora reconheçam que a ameaça é real e se preparam para receber um arsenal de equipamentos militares dos EUA para fortalecer suas defesas. Enquanto isso, a Rússia nega que esteja planejando uma ofensiva, mas já mobilizou cerca de 100 mil soldados em áreas próximas da Ucrânia nas últimas semanas, levando os EUA e seus aliados da Otan a acelerarem preparativos para uma possível guerra.
João Correia explica que a tensão na população pode ter efeitos colaterais. "Conversando com colegas na Ucrânia, se diz que em boa parte do país há expectativa, há preocupação, pois o presidente (Volodymyr Zelensky) já citou que a população deveria se armar, se preparasse para uma possível invasão. Isso cria um transtorno significativo, pois podem surgir grupos paramilitares paralelos ao exército, que posteriormente podem colocar em risco a segurança nacional. Vimos isso na Síria, com facções bem armadas fazendo paralelo ao exército oficial do País", comenta o geógrafo ressaltando que, mesmo armada, a população da Ucrânia não faria frente ao poder bélico russo.
"Existe guerra de narrativas, a Rússia diz não ter interesse em atacar a Ucrânia e diz haver histeria do Ocidente, dos mercados, das lideranças políticas. A Rússia quer quer passar ideia de que não vai atacar e que fez movimentação para defender seus interesses e está sendo atacada. Há, nos bastidores, a informação de que a Rússia estaria estrategicamente criando uma situação para ser atacada primeiro e, em seguida, contra-atacar", disse João.
Várias rodadas de diplomacia de alto nível falharam em gerar resultados, e as tensões se agravaram. A Otan disse que está reforçando sua presença militar na região do mar Báltico e os EUA colocaram 8.500 soldados em prontidão para possível deslocamento para a Europa, como parte de uma "força de resposta" aliada, se necessário. Os EUA determinaram que familiares de funcionários americanos da embaixada do país em Kiev deixem a Ucrânia. O Reino Unido, por sua vez, está retirando alguns diplomatas e dependentes de sua representação na capital ucraniana.
De acordo com João Correia, é importante analisar os movimentos Vladimir Putin, presidente da Rússia neste momento. "Percebo que Putin, que governa a Rússia, seja como presidente ou primeiro ministro, desde os anos 2000, é muito habilidoso, vem fazendo testes e percebendo até onde a Otan vai nesse embate contra as tropas ucranianas. A Russia mobilizou mais de 100 mil soldados na fronteira, os americanos disseram que vão dispor de 8.500, mas é bom lembrar que os americanos não determinam o que a Otan pode ou não fazer. A Otan tem quase 30 países membros e alguns disseram que não vão ficar a reboque das decisões de Joe Biden", disse.
O professor ressalta que Emmanuel Macron, busca reeleição como presidente da França e busca protagonismo. Já a Alemanha, disse que mandará ajuda econômica e financeira, mas não armas a Ucrânia. O professor destacou que o maior fornecedor do gás natural europeu é a Rússia e que o gás vem subindo de preço, há, inclusive, preocupação se o produto será usado como instrumento geopolítico em um momento em que a pauta do meio-ambiente está forte na Europa e o gás natural é visto com um combustível menos poluente.
A Ucrânia deve receber nesta terça-feira, por parte dos Estados Unidos, "equipamentos e munições para reforçar as forças armadas ucranianas", informou a embaixada dos Estados Unidos. Segundo a legação, trata-se de uma parte dos 200 milhões de dólares em assistência a Kiev autorizados pela Casa Branca recentemente.
Enquanto isso, a aliança da Otan, liderada por Washington, anunciou que seus membros estavam deixando as tropas "em standby" (em espera) e que também estavam enviando navios e aviões para reforçar a defesa do Leste Europeu. A Rússia vê como uma ameaça a mobilização de tropas da Aliança Atlântica perto de suas fronteiras.
Os ocidentais acusam o governo russo de ter concentrado mais de 100.000 soldados na fronteira com a Ucrânia, para uma possível invasão, depois que a Rússia anexou a Crimeia em 2014. Moscou também é acusado de apoiar os separatistas pró-russos contra os quais Kiev está em guerra no leste do país há oito anos.
Por fim, o professor João Correia afirma que Putin parece buscar uma garantia de que a Otan não vai estar com tropas "estacionadas" em seu quintal e que a Ucrânia não entrará para a Organização. "Mas, a Otan tem políticas de portas abertas, ela ajuda que a ajuda", comentou. Além disso, o especialista destaca que a Rússia tenta mostrar força após ver países do leste europeu, que pertenciam a antiga União Soviética, migrarem para a união Euroéia.