A guerra na Ucrânia continuava a somar vítimas nesta segunda-feira (14), em meio à esperança de acordo em uma quarta rodada de negociações russo-ucranianas, que deve ser retomada nesta terça (15).
Pelo menos duas pessoas morreram e uma ficou ferida em um bombardeio russo em Kharkiv, no nordeste da Ucrânia, informou a Promotoria regional nesta segunda-feira.
"Um prédio foi destruído e outros foram danificados após uma série de tiros do agressor", disse seu serviço de imprensa.
Poucos minutos depois, a Promotoria acrescentou que um adolescente de 15 anos foi morto no bombardeio de um local que abrigava jovens em Chuguyev, 40 km a sudeste de Kharkiv.
Na madrugada desta segunda, um edifício de oito andares do bairro de Obolon, na zona norte de Kiev, "foi alvo de um disparo de artilharia", que provocou uma morte e deixou 12 feridos. Mais tarde, um bombardeio em outro bairro, perto da fábrica de aviões Antonov, deixou outra vítima fatal.
A capital "é uma cidade em estado de sítio", afirmou no domingo um conselheiro do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky.
Em Donetsk, os separatistas pró-Rússia, apoiados por Moscou e que controlam a cidade desde 2014, anunciaram que um ataque ucraniano ao centro da cidade deixou pelo menos 16 mortos, de acordo com o "ministério" da Saúde local, ou 23, de acordo com o Comitê de Investigação da Rússia.
Eles publicaram fotos que mostram corpos ensanguentados em uma rua repleta de escombros.
Os militares ucranianos negaram veementemente disparar um míssil em Donetsk.
"Definitivamente é um míssil russo ou outro tipo de munição", disse o porta-voz do Exército ucraniano, Leonid Matiukin.
Mais de 2,8 milhões de pessoas já fugiram da Ucrânia, segundo dados desta segunda-feira, um dia no qual o Kremlin não descartou "tomar o controle total das principais cidades que já estão cercadas". Isto implicaria uma ofensiva militar de grande envergadura.
"Nenhum lugar seguro"
Mais a oeste, em outra grande cidade industrial, Dnipro, até agora considerada um refúgio para os civis procedentes de Kharkiv ou Zaporizhzhia, os alarme soaram durante cinco horas, pela primeira vez desde o início da invasão russa, em 24 de fevereiro.
Nenhum projétil caiu, mas "não há nenhum lugar seguro", declarou à AFP Yilena, de 38 anos, proveniente de Zaporizhzhia.
A Rússia apertou o cerco no sul da Ucrânia, segundo o Ministério britânico da Defesa, que tuitou que as forças navais "bloqueavam a costa ucraniana do Mar Negro".
A situação permanece dramática em Mariupol, cidade portuária estratégica sitiada pelos russos. No entanto, pela primeira vez em vários dias, cerca de 160 veículos conseguirem passar por um corredor humanitário nesta segunda-feira.
Milhares de habitantes vivem em porões, sem água, eletricidade ou aquecimento. Segundo a prefeitura, 2.187 pessoas já morreram na localidade.
Os combates também chegaram ao oeste do país, que até agora estava relativamente tranquilo, com bombardeios no sábado contra a base militar de Yavoriv, perto da Polônia.
Moscou afirma que dezenas de "mercenários estrangeiros" morreram. As autoridades ucranianas afirmam que todas as vítimas fatais eram civis.
O presidente ucraniano voltou a pedir que a Otan estabeleça uma zona de exclusão aérea em seu território, o que a aliança militar rejeita para não se envolver na guerra.
Washington e seus aliados europeus enviaram fundos e ajuda militar à ex-república soviética e impuseram sanções econômicas sem precedentes à Rússia.
Mas os Estados Unidos descartaram intervir diretamente e o presidente Joe Biden alertou que, se a Otan entrar será a "Terceira Guerra Mundial".
Chernobyl novamente
Na antiga usina nuclear de Chernobyl, ocupada pela Rússia, ao norte de Kiev, a operadora ucraniana Ukrenergo acusou os militares russos de danificar mais uma vez a linha de alta tensão que fornece eletricidade.
Após uma primeira interrupção em 9 de março, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) disse que "não há impacto significativo na segurança" do local, palco do pior desastre nuclear civil em 1986.
Neste contexto, as negociações entre as delegações russa e ucraniana foram retomadas nesta segunda-feira por videoconferência.
"Temos que nos manter firmes e lutar para vencer, para alcançar a paz que os ucranianos merecem, uma paz honesta com garantias de segurança para nosso Estado, para nosso povo. E colocá-las por escrito nas negociações, negociações difíceis", disse Zelensky em um discurso em vídeo.
Por volta das 16h, horário local, o principal negociador ucraniano, Mykhailo Podoliak, anunciou uma "pausa técnica" nas conversas, que serão retomadas na terça-feira (15).
Enquanto prosseguem as negociações, persiste o temor de propagação do conflito e as ações diplomáticas são intensas.
Funcionários de alto escalão dos Estados Unidos e da China se reúnem em Roma nesta segunda-feira. A Casa Branca está preocupada com uma possível ajuda de Pequim a Moscou.
Grandes manobras militares da Otan, o exercício "Cold Response 2022", planejadas há muito tempo, começaram nesta segunda-feira na Noruega, com o objetivo de testar a capacidade dos países membros de ajudar quando um deles é atacado. Quase 30.000 soldados, 200 aviões e 50 navios de 27 nações serão mobilizados no Ártico.
"Default artificial"
Diante das sanções que congelam 300 bilhões de dólares de reservas da Rússia no exterior, Moscou acusa os países ocidentais de tentar provocar um "default artificial".
As sanções deixam a Rússia em dificuldades no momento de enfrentar vários pagamentos da dívida em outras divisas e que vencem em março e abril, o que provoca recordações do humilhante calote de 1998.
Outro efeito da disputa entre russos e ocidentais foi o impacto na rede social Instagram, que pertence ao grupo americano Meta, que estava inacessível nesta segunda-feira na Rússia.