Da AFP
Atualizada às 17h44
A Rússia acusou nesta sexta-feira (1º) a Ucrânia de realizar um ataque aéreo em seu território pela primeira vez, enquanto a evacuação da cidade ucraniana de Mariupol, sitiada e bombardeada por tropas russas, foi adiada ainda mais.
O governador da região russa de Belgorod, Vyacheslav Gladkov, disse que dois helicópteros ucranianos entraram em território russo e bombardearam um "depósito de gasolina" naquela cidade, a cerca de 40 quilômetros da fronteira.
O porta-voz da Presidência russa, Dmitri Peskov, alertou que esta ação pode afetar o diálogo entre a Rússia e a Ucrânia. No entanto, algumas horas depois, o principal negociador do Kremlin, Vladimir Medinski, informou que as negociações entre os dois países haviam sido retomadas por videoconferência.
A Ucrânia diz estar pronta para adotar o status de país neutro e renunciar à adesão à Otan, com a condição de que outros países garantam sua segurança contra a Rússia.
- A agonia de Mariupol -
Mariupol, um porto estratégico no Mar de Azov, ainda aguarda o resultado de negociações complexas para abrir um corredor humanitário para evacuar dezenas de milhares de civis que vivem em condições deploráveis.
O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), que inicialmente considerou iniciar a operação nesta sexta-feira, indicou que sua equipe não conseguiu chegar à cidade ou "facilitar a passagem segura" de civis, mas que tentará novamente no sábado.
"Há muitas partes em ação e todos os detalhes não estão resolvidos para ter certeza de que isso acontecerá com a segurança adequada", explicou a entidade anteriormente.
"A população precisa desesperadamente dessa passagem segura", disse o porta-voz do CICV Ewan Watson em Genebra.
A cidade foi reduzida a escombros. Só lá 5.000 pessoas morreram, segundo as autoridades ucranianas, e dezenas de milhares de civis vivem escondidos em porões, quase sem luz, comida, água ou remédios.
Após cinco semanas de guerra, quatro milhões de pessoas - 90% mulheres e crianças - fugiram da Ucrânia, que também tem quase 6,5 milhões de deslocados internos, segundo a ONU.
- "Retirada parcial" -
A Rússia anunciou no início desta semana que reduziria suas operações em Kiev e na cidade de Chernihiv, no norte, para se concentrar nas regiões separatistas de Donetsk e Luhansk, no leste.
Especialistas militares garantem que Moscou, diante da resistência ucraniana, busca agora estabelecer seu controle na faixa litorânea meridional que vai da península da Crimeia - anexada em 2014 - às duas regiões de Donbass, Donetsk e Lugansk, amplamente controladas por separatistas pró-russos.
O presidente ucraniano Volodimir Zelensky também disse na quinta-feira que o exército russo está se reagrupando para lançar "ataques poderosos" no sudeste, onde a situação é "muito difícil".
No terreno, as forças armadas ucranianas disseram ter libertado 11 cidades na região sul de Kherson. Duas pessoas morreram e outras duas ficaram feridas em um bombardeio russo na quinta-feira, disse o governador regional na sexta-feira.
Por outro lado, a Presidência ucraniana informou ter obtido a libertação de 86 dos seus soldados capturados pela Rússia, em troca de soldados russos cujo número não foi especificado. A Unesco informou que, desde o início da invasão, 53 locais culturais ucranianos foram danificados. A lista inclui 29 edifícios religiosos, 16 edifícios históricos, quatro museus e quatro monumentos.
- Guerra energética -
A economia russa foi submetida a um arsenal de sanções ocidentais pela invasão da Ucrânia.
A União Europeia (UE) pediu nesta sexta-feira que a China "não interfira" para ajudar o presidente russo, Vladimir Putin, a diminuir o impacto dessas medidas.
"Esperamos que a China leve em consideração a importância de sua imagem internacional e a relação econômica entre a China e a UE", disse o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, ao final de uma videoconferência com o presidente chinês, Xi Jinping.
O presidente russo, Vladimir Putin, proibiu os principais líderes dos países da UE de entrar na Rússia em retaliação e alertou os países europeus na quinta-feira que, a partir desta sexta-feira, terão que pagar em rublos pelo gás russo.
Ao contrário dos Estados Unidos, os países europeus não cancelaram as importações de combustíveis russos, dos quais depende grande parte de seu fornecimento de energia.
A guerra entre a Rússia e a Ucrânia, dois grandes produtores de matérias-primas, e as sanções internacionais colocam os mercados sob pressão, com a inflação se tornando mais pronunciada nos países industrializados.
Nos Estados Unidos, o aumento anual dos preços atingiu 6,4% e na UE um recorde de 7,4%.
O presidente dos EUA, Joe Biden, disse nesta sexta-feira que mais de 30 países se juntaram aos Estados Unidos na liberação de suas reservas de petróleo para mitigar o aumento dos preços dos combustíveis.