Com informações da AFP
Os tripulantes das companhias aéreas Ryanair e EasyJet, que atuam na Europa, estão em greve. No último fim de semana, dezenas de voos foram cancelados ou adiados no aeroporto de Madri, na Espanha, e no Charles de Gaulle, em Paris, França.
As duas companhias aéreas são conhecidas por serem de baixo custo para os passageiros. Em mobilização no sábado (2), os tripulantes pediam melhores salários e condições de trabalho.
Na Espanha, a Ryanair tem cerca de 1.900 colaboradores. A greve começou em 24 de junho. Desde então, mais de 200 voos foram cancelados e quase 1.000 sofreram atrasos em todo o país.
O sindicato da categoria informou que o pessoal da Ryanair programou paralisações em três períodos de quatro dias: de 12 a 15 de julho, de 18 a 21 de julho e de 25 a 28 de julho nos dez aeroportos espanhóis em que a empresa opera.
Já os tripulantes da EasyJet começaram a se mobilizar na última sexta (1°). Eles anunciaram greves durante os três primeiros fins de semana de julho para exigir melhores condições de trabalho. Os trabalhadores pedem que estas sejam como as de outras companhias aéreas da Europa.
Na França, os bombeiros também estão em greve, o que obrigou autoridades a reduzirem o número de pistas, por prevenção. No último sábado, entre 7h e 14h, um em cada cinco voos que tinha Paris como origem ou destino foram cancelados, de acordo com o operador aeroportuário ADP.
Em entrevista à Rádio Jornal, o piloto Paulo Neto, que atua em Hong Kong, afirmou que o problema não é restrito a apenas um país, mas envolve a indústria da aviação como um todo. A situação atrapalha as férias de verão, e também coincide com o final do ano letivo na Europa.
"O hemisfério Norte está na temporada de alta estação. Esse verão de 2022 é o primeiro que se tem com uma certa normalidade após a covid-19. Está existindo um 'boom' na demanda por voos, grande parte das pessoas com intenção de turismo, só que o mercado da aviação, a indústria aeronáutica, não se recuperou de todo o pessoal que foi perdido durante o período da pandemia", explicou.
De acordo com Paulo Neto, é difícil para as empresas fazerem uma reposição do pessoal, tanto de voo, como de solo. "Tudo em aviação exige treinamento. Mesmo pessoas que trabalhavam na aviação, foram demitidas ou pegaram licença não remunerada durante a pandemia e agora foram recontratadas, não podem entrar no trabalho de imediato. As autoridades regulatórias exigem que esses profissionais sejam retreinados", disse.
A própria empresa onde o piloto ouvido pela Rádio Jornal trabalha está passando por isso. "Muitos pilotos estão sendo chamados de volta. O treinamento que os pilotos têm que passar para retornar ao voo é como se tivesse sendo empregado pela primeira vez. Não é fácil você colocar esse pessoal de volta ao trabalho", disse. Além disso, há ainda os casos de quem arrumou outro emprego em meio à pandemia e não quer mais voltar para a aviação.
"Está tendo esse desbalanceamento entre a demanda de passageiros, que está muito alta. Não se esperava que o mercado seria tão aquecido no verão europeu e não tem mão de obra suficiente para atender toda essa demanda, principalmente o pessoal de solo - carregadores de bagagem, pessoal de ticket, de balcão, e vários outros profissionais que auxiliam o voo".
Os trabalhadores que permaneceram nas companhias aéreas tiveram redução nos salários devido à diminuição da demanda de voos. "Estamos vendo uma demanda muito grande na Europa, mas as empresas não estão repassando esse lucro aos funcionários. Não retornaram aos salários que eles tinham pré-pandemia", afirmou o piloto.