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GUERRA: Rússia ratifica anexação de territórios ucranianos, contra o Ocidente

A capital russa prepara uma festa para celebrar a anexação das quatro regiões ucranianas
AFP
Publicado em 29/09/2022 às 16:31
REFERENDO NA UCRÂNIA Foto: STRINGER / AFP


O presidente russo, Vladimir Putin, formalizará na sexta-feira (30), em uma cerimônia em Moscou, a anexação de territórios ucranianos à Rússia, um processo amplamente criticado pela comunidade internacional.

A Ucrânia, que tem o apoio dos países ocidentais, prometeu continuar com a contraofensiva iniciada há um mês e que provocou o recuo do Exército russo, o que levou Putin a convocar centenas de milhares de reservistas.

A cerimônia no Kremlin ratificará a anexação de quatro regiões da Ucrânia parcialmente controladas por Moscou: Donetsk e Luhansk, no leste; Kherson e Zaporizhzhia, no sul.

"Uma cerimônia de assinatura de acordos sobre a entrada de novos territórios na Federação da Rússia acontecerá amanhã (sexta-feira) às 15h (9h de Brasília) no Kremlin", afirmou o porta-voz da presidência russa, Dmitri Peskov.

"Vladimir Putin pronunciará um discurso no evento", acrescentou.

Em resposta à organização do evento, o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, anunciou a celebração de uma reunião "urgente", amanhã, de seu Conselho de Segurança Nacional.

A capital russa prepara uma festa para celebrar a anexação das quatro regiões ucranianas, que acontecerá após a organização de "referendos" nas localidades.

Grande parte do centro de Moscou permanecerá fechado aos veículos. De acordo com a imprensa russa, um show será organizado diante da sede da presidência, e Putin poderá, inclusive, aparecer.

As autoridades designadas pela Rússia nas quatro regiões ucranianas desembarcaram na quarta-feira à noite em Moscou, segundo as agências de notícias russas.

Nesta quinta, o presidente Putin afirmou que os conflitos em países da antiga URSS, incluindo o da Ucrânia, são, "evidentemente", o "resultado da queda da União Soviética".

Segundo ele, está-se formando, neste momento, "uma ordem mundial mais justa", por meio de um "processo difícil".

A Rússia acelerou o processo de anexação das regiões, após a grande contraofensiva de Kiev.

A Ucrânia e os países ocidentais chamaram as votações de "farsas" e já afirmaram que não vão reconhecer a anexação dos territórios.

"Qualquer decisão de proceder à anexação das regiões ucranianas de Donesk, Lugansk, Kherson e Zaporizhzhia não terá qualquer valor legal e merece ser condenada (...) É uma escalada perigosa. Isso não tem lugar no mundo moderno", declarou o secretário-geral da ONU, António Guterres, nesta quinta.

Até a China, grande aliada da Rússia, pediu respeito à "integridade territorial de todos os países".

A Rússia segue o mesmo roteiro da anexação em 2014 da Crimeia, uma península do sul da Ucrânia, que também não foi reconhecida pela comunidade internacional.

A união dos territórios ucranianos representa uma escalada na ofensiva da Rússia.

Várias autoridades e analistas russos afirmaram que, quando estas áreas forem anexadas e consideradas por Moscou como parte de seu território, a Rússia poderá usar armas nucleares para "defendê-las".

Na semana passada, Putin declarou que a Rússia estava disposta a recorrer a "todos os meios" de seu arsenal para "defender" seu território.

Depois de recuperar grande parte do nordeste de seu território, a Ucrânia parece preparar uma operação para tentar reconquistar Lyman, cidade da região de Donetsk e importante centro ferroviário que o Exército russo controla desde maio.

As tropas ucranianas mantêm silêncio sobre as operações em curso, mas as autoridades separatistas na região já admitiram a dificuldade dos combates.

"O inimigo executa ataques para nos cercar", declarou Alexei Nikonorov, funcionário do governo de ocupação de Donetsk, a um canal russo.

O Instituto para o Estudo da Guerra (ISW), um centro de pesquisas com sede nos Estados Unidos, destacou que "combates significativos" estão acontecendo na região. A reconquista de Lyman permitiria a Kiev avançar tanto na região de Donetsk como na vizinha Luhansk.

Ao mesmo tempo, as forças ucranianas recuperaram o controle da totalidade da cidade de Kupiansk, no nordeste, e expulsaram tropas russas da margem oriental do rio Oskil, constatou um repórter da AFP.

Os russos continuam bombardeando várias cidades ucranianas. Ao menos cinco civis morreram na parte sob controle ucraniano da região de Donetsk, e uma criança faleceu durante a noite em Dnipro (leste).

Na Rússia, prossegue a mobilização de centenas de milhares de reservistas para reforçar o Eexército, assim como o êxodo de dezenas de milhares de russos que temem a convocação militar.

"Foi muito difícil deixar tudo para trás. Minha casa, minha pátria, minha família. Mas é melhor que matar pessoas", disse à AFP um jovem de 20 anos, que entrou na Mongólia pela fronteira terrestre e preferiu não revelar o nome.

Diante do elevado fluxo de chegadas procedentes da Rússia, a Finlândia anunciou que, a partir da meia-noite (18h de Brasília), fechará suas fronteiras aos cidadãos russos que têm visto de turismo europeu para o espaço Schengen.

No campo diplomático, os vazamentos provocados por explosões misteriosas nos gasodutos Nord Stream que ligam a Rússia à Alemanha através do Mar Báltico aumentam as tensões entre Moscou e o Ocidente.

Os dois lados trocam acusações sobre sabotagens às tubulações submarinas, uma infraestrutura crucial para o abastecimento europeu de gás russo.

Operados por um consórcio controlado pela empresa russa Gazprom, os dois gasodutos não estavam em funcionamento, devido à guerra na Ucrânia, mas ainda estão repletos de gás.

A Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) denunciou nesta quinta-feira que os danos parecem ser resultado de "atos de sabotagem deliberados e irresponsáveis".

Alvo de suspeitas ocidentais pela suposta sabotagem, a Rússia se defendeu e afirmou que suspeita "do envolvimento" de um Estado estrangeiro, além de ter convocado uma reunião do Conselho de Segurança da ONU sobre o tema para sexta-feira. 

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