Com 30ºC ao amanhecer na Espanha e um calor incomum mais ao norte, a Europa experimenta temperaturas excepcionalmente elevadas depois de um verão marcado por sucessivas ondas de calor, sinal da aceleração do impacto da mudança climática.
"Apesar de não ter terminado o mês, já podemos praticamente dar por certo que vai ser o outubro mais quente (na Espanha) desde 1961", quando começaram os registros estatísticos, afirma o porta-voz da Agência Espanhola de Meteorologia (Aemet), Rubén del Campo.
Às 8h30 da sexta-feira (28), a estação meteorológica do aeroporto de San Sebastián, cidade do País Basco (norte), acostumada a um clima mais frio, marcava 30,3ºC.
Essa região sofreu incêndios florestais nos últimos dias, e suas autoridades proibiram, como no verão, fazer fogueiras e lançar fogos de artifício, dado o alto risco de incêndios.
Para Rubén del Campo, este episódio de "verono", uma mistura de verão e outono (em tradução livre do espanhol "veroño"), é outro sinal de que a mudança climática "está acelerada" no país, o mais exposto à desertificação na Europa.
Segundo um informe do Climate Central, quatro cidades espanholas (Madri, Valência, Saragoça e Barcelona) se encontram entre as dez localidades europeias mais impactadas pela mudança climática entre setembro de 2021 e setembro de 2022.
Na França, a situação não é muito diferente, e este mês de outubro deve ser o mais quente já registrado.
"O episódio de calor em curso desde 15 de outubro de 2022 não tem precedentes em sua duração em todo país", afirmou o Météo France em uma nota divulgada na quinta-feira (27).
No sudoeste da França, país que, como a Espanha, viu-se afetado no último verão (inverno no Brasil) por devastadores incêndios, "as máximas voltaram a rondar os 30 graus" nesta sexta.
No Reino Unido, a Met Office, agência meteorológica, informou na quarta-feira (26) que as temperaturas, que alcançaram os 20,5ºC em Londres, estavam "mais próximas das que normalmente veríamos no final de agosto, e não no fim de outubro".
Na Alemanha, ventos quentes provenientes do sudoeste da Europa provocam "um clima de final de verão, sem indícios de que o inverno se aproxima", segundo a agência meteorológica local.
Na Bélgica, a máxima foi prevista em 24ºC em Bruxelas no sábado (29), cerca de 10ºC acima das médias para a estação.
"É difícil acreditar que estamos no final de outubro quando grande parte da Europa (e norte da África) está enfrentando um calor anormal", tuitou a Organização Meteorológica Mundial (OMM) nesta sexta.
Graças a este clima, as calefações não precisam ser ligadas com frequência no norte da Europa, uma boa notícia em plena crise energética. Porém, é uma das poucas, disse Rubén del Campo.
"Ainda que possa parecer um clima agradável, porque podem ir à praia, na realidade, as consequências não são boas", afirma Del Campo, preocupado especialmente com as reservas de água, cruciais em um país, cuja agricultura intensiva abastece a Europa de frutas e verduras.
Na segunda-feira (24), as reservas estavam em 31,8% da capacidade, contra 49,3% na média dos últimos dez anos para o mesmo período.
Nas praias de Barcelona (nordeste), moradores e turistas aproveitam o sol, mas estão cientes.
"Estamos encantados com este calor (...) Estamos encantados com a vida, mas isto não é normal", comenta Alicia Pesquera, esteticista de 43 anos.