Moradores de Gaza recorreram a carros, bicicletas, cadeiras de rodas e outros meios para fugir, depois que o Exército de Israel determinou nesta segunda-feira (8) a evacuação de novos distritos.
Pela terceira vez desde 27 de junho, o Exército ordenou hoje o esvaziamento do centro da cidade, afetada há nove meses pela guerra entre o Hamas e Israel. As primeiras instruções afetaram o bairro de Shujaiya, que sofre com combates intensos há quase duas semanas, informaram testemunhas à AFP.
"Para onde vamos?", perguntava Abdullah Khamash, que fugia do bairro de Al Rimal. "Saímos às 3h, dormimos na rua e as pessoas nos deram cobertores. Agora, vamos voltar a viver nas ruínas", reclamou.
Enquanto drones vão e vêm com seu zumbido incessante, em terra os palestinos percorrem caminhos de areia, em meio a prédios reduzidos a pó ou danificados. Alguns transportam seus pertences em sacolas de plástico e outros fazem o trajeto em carroças puxadas por burros. Milhares de moradores fugiam, segundo testemunhas e a Defesa Civil.
Indescritível
Tanques israelenses posicionaram-se em vários distritos, enquanto outros avançavam em meio a bombardeios e ataques de drones, segundo moradores. Mohamed Bisan disse que teve "uma noite indescritível: "aviões, artilharia, drones disparando de todos os lados. Não sabemos por onde fugir."
O Exército israelense lançou uma primeira ofensiva em Gaza dias após o ataque do Hamas a Israel em 7 de outubro. Depois, continuou para o sul, anunciando em janeiro "o desmantelamento da estrutura militar" do movimento islamita palestino no norte.
Hoje, o Exército informou que havia iniciado "uma operação antiterrorista" contra o Hamas e a Jihad Islâmica palestina em Gaza, principalmente em torno do prédio da Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinos (UNRWA), que não comentou essa informação.
Muitas pessoas palestinas deslocadas se refugiam em escolas administradas pela ONU. Dezesseis pessoas morreram no último sábado em uma escola da UNRWA em Nuseirat, onde estavam abrigados milhares de deslocados, segundo o Hamas.
O movimento islamista anunciou ontem que outras quatro pessoas morreram em um ataque contra uma escola administrada pelo Patriarcado Latino em Gaza. Segundo o Exército de Israel, os dois ataques tiveram terroristas como alvo. O Hamas nega que seus combatentes se escondam em infraestrutura civil.
A coordenadora humanitária da ONU para o território, Sigrid Kaag, estimou na semana passada que o conflito obrigou 1,9 milhão de pessoas, que representam 80% da população, a se deslocar.