A oposição venezuelana pediu, nesta sexta-feira (16), para "manter a batalha" em manifestações de rua contra a contestada reeleição do presidente Nicolás Maduro, que consideram fraudulenta, em meio à pressão internacional.
Maduro foi proclamado reeleito para um terceiro mandato de seis anos, até 2031, com 52% dos votos. No entanto, a autoridade eleitoral, acusada de servir ao chavismo, não divulgou detalhes da apuração, o que gerou dúvidas até entre aliados como o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, que chamou o governante venezuelano de "autoritário".
A oposição liderada por María Corina Machado afirma ter provas da vitória de seu candidato, Edmundo González Urrutia, e convocou para sábado uma marcha em Caracas e em mais de 300 cidades em um "grande protesto mundial pela verdade".
"Isso não vai parar", disse Machado em uma transmissão ao vivo no Instagram com influenciadores venezuelanos. Assim como González Urrutia, ela está na clandestinidade.
"Aqui todo mundo tem que manter a batalha e a força", continuou. "Ao se ver exposto, então o que faz: mente, reprime, usa violência e desmoraliza. A desmoralização é a estratégia do regime" de Maduro, afirmou.
O chavismo também convocou uma manifestação para sábado, embora não tenha dado maiores detalhes.
"Regime muito desagradável"
Brasil e Colômbia lideram os esforços internacionais para resolver a crise pós-eleitoral na Venezuela, que levou a protestos que deixaram 25 mortos e resultaram em mais de 2.400 detidos. A oposição e o chavismo convocaram novas manifestações para o sábado.
"A Venezuela vive um regime muito desagradável", declarou Lula em uma entrevista à Rádio Gaúcha, na qual afirmou não considerar que o regime da Venezuela "seja uma ditadura", mas sim "um governo com viés autoritário".
Lula, sugeriu, junto com seu homólogo colombiano, Gustavo Petro, repetir as eleições, uma proposta que tanto o chavismo quanto a oposição descartam por enquanto. Machado considerou a proposta "uma falta de respeito".
Maduro não se referiu diretamente ao assunto, mas insistiu em que a Venezuela "é um país independente". "Os conflitos que há na Venezuela (...) são resolvidos entre os venezuelanos, com suas instituições, com sua lei, com sua Constituição".
O presidente de esquerda já havia descartado anteriormente a realização de um novo pleito.
"Onde estão as atas?"
O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) alega que não divulgou os detalhes da apuração devido a um "ataque ciberterrorista", o que o Centro Carter e outros observadores desconsideram.
Lula pediu mais uma vez às autoridades que publiquem o resultado mesa por mesa.
"O que estou pedindo para reconhecer (o vencedor) é pelo menos saber se os números são verdadeiros. Onde estão as atas? Onde está a confirmação das urnas?", destacou o presidente. "Só posso reconhecê-las se for democrático, se mostrarem as provas".
Maduro pediu ao Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) para "certificar" a eleição, em um recurso que acadêmicos e opositores consideram improcedente. O processo está em uma fase de "perícia" das provas coletadas e o veredito é inapelável. O TSJ também é acusado de estar alinhado com o governo.
A oposição publicou em um site cópias de mais de 80% das atas apuradas, as quais afirma comprovarem a vitória de González Urrutia com 67% dos votos.
Os líderes opositores pedem que cada participante imprima e leve uma cópia da ata de votação de sua mesa para o protesto de sábado.
"Propostas teóricas"
O analista internacional Mariano de Alba avaliou na rede X que o chamado de Lula e Petro por novas eleições faz parte das "propostas teóricas" para resolver o conflito.
Mas "se houvesse uma mediação efetiva", continuou, "não seriam os presidentes do Brasil e da Colômbia que estariam fazendo propostas públicas sobre como avançar, mas sim estariam trabalhando com a oposição e o governo para tentar chegar a um acordo".
Os Estados Unidos afirmaram na quinta-feira que é "absolutamente claro" que González Urrutia foi o vencedor das eleições, em uma aparente retratação de um comentário anterior do presidente Joe Biden defendendo novas eleições.
A situação parece bloqueada, apontou De Alba. "O governo se sente capaz de manter a coesão e enfrentar novamente um isolamento por parte do Ocidente" e "a oposição não concebe uma solução diferente do reconhecimento de sua vitória e uma negociação que leve à saída do governo".
A Organização dos Estados Americanos (OEA) realiza nesta sexta-feira uma reunião extraordinária sobre a Venezuela, apesar de o país estar fora do organismo.