Auxílio emergencial: O dilema do presidente Jair Bolsonaro

"A intuição populista do presidente, reforçada pela pressão do Centrão, sempre ávido pela abertura da torneira do Tesouro Nacional, levará, com certeza, à reedição do auxílio emergencial". Leia a opinião do economista Sérgio C. Buarque
Sérgio C. Buarque
Publicado em 03/02/2021 às 10:00
Parte da oposição vai às ruas contra Bolsonaro neste domingo (12) Foto: ALAN SANTOS/PR


Todos os gestos e decisões do Presidente Jair Bolsonaro são iluminados pelos seus resultados políticos nas eleições presidenciais do próximo ano. Os partidos de oposição também definem suas posições pensando neste evento o que, curiosamente, leva a alguns deles convergirem com os interesses do presidente (ver o apoio de parlamentares ditos de esquerda aos candidatos de Bolsonaro a presidente das duas casas do Congresso). Devem, contudo, atuar em circunstâncias que independem da sua vontade e do seu interesse, embora sejam, em grande medida, consequência de escolhas do passado recente.

Neste primeiro semestre de 2021, o Brasil experimenta um agravamento da crise sanitária como consequência do relaxamento dos cuidados e do isolamento social e do avanço de uma nova cepa do coronavírus, mais grave e com maior poder de transmissão. A tão esperada vacinação, que poderia conter a crise sanitária, será ainda muito lenta nos próximos meses, obrigando à intensificação do isolamento social que vai levar à retração forte da economia. Nestas condições, o presidente da República terá que escolher entre ampliar as medidas emergenciais, distribuindo "dinheiro na veia da população" (segundo a sua expressão), ou apostar na contenção dos gastos públicos para impedir o agravamento do déficit e da dívida pública.

A intuição populista do presidente, reforçada pela pressão do Centrão, sempre ávido pela abertura da torneira do Tesouro Nacional, levará, com certeza, à reedição do auxílio emergencial. O resultado imediato será positivo, modera a recessão econômica e impede um desastre social, contribuindo para a recuperação do percentual da população que aprova o governo e, portanto, deixando Bolsonaro em condições eleitorais muito favoráveis.

Entretanto, o desempenho de curto prazo pode gerar um completo desmantelo fiscal, cobrando altos dividendos no restante do seu mandato e na medida em que se aproximam as eleições: forte desajuste macroeconômico, explosão da dívida pública com risco de insolvência, fuga de capitais, desvalorização cambial e pressões inflacionárias. Ao contrário, um aperto fiscal imediato, resistindo à elevação dos gastos, poderia levar a uma recuperação da economia em 2022, aumentando sua vantagem eleitoral. Este pode ser o dilema do presidente: sucesso imediato, com risco eleitoral futuro, ou desaprovação agora, na expectativa de recuperação mais perto das eleições.

Sérgio C. Buarque, economista

*Os artigos são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do JC

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