Vários estudos mostraram que escolas são lugares bem mais seguros do que outros, como comércio em geral, bares e praias reunindo, em geral, grandes aglomerados de pessoas, sem respeitar o distanciamento social e o uso de máscaras.
Ainda assim, para que as escolas reabram e as atividades presenciais voltem em 2021, será ainda necessário tomar como referência o quadro epidemiológico da região, sem esquecer os naturais cuidados sanitários que as escolas precisam oferecer, como higienização permanente, rodízio na hora do recreio, salas ventiladas e medidas de temperatura no ingresso à escola, entre outros. Também entendo que os professores deveriam fazer parte de um grupo de maior prioridade no processo de vacinação, como se fez no Uruguai.
Nesse cenário, a oferta de ensino remoto será determinante para que as escolas ofereçam atividades escolares aos seus alunos, em particular neste primeiro semestre. Com o advento da vacinação e a depender da velocidade desse processo, é possível que no segundo semestre tenhamos com maior intensidade a oferta do ensino presencial. Nesse primeiro semestre, o ensino híbrido (o presencial combinado com o remoto) ainda irá prevalecer, mas não se enganem, ele veio para ficar.
Isso implica que não podemos nos esquecer de assegurar a conectividade para todos os alunos, dos quais uma parcela significativa não teve acesso ao ensino remoto em 2020. Não podemos nos esquecer também de preparar adequadamente os professores com capacitação e material adequados. Em outras palavras, as escolas terão de compreender que internet e banda larga são o caderno e o lápis do século XXI. Assim, as secretarias de Educação vão precisar incluir no orçamento recursos para essa finalidade. O governo federal, no âmbito dos ministérios envolvidos, especialmente os da Educação, da Economia e da Comunicação, deveria liberar recursos do Fundo de Universalização dos Sistemas de Telecomunicações (Fust), estimados em quase 23 bilhões de reais pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), para apoiar estados e municípios.
Outro ponto que também me preocupa refere-se à realização da Prova Brasil para estimar a proficiência escolar no cálculo do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), que certamente deverá produzir resultados muito abaixo daqueles que historicamente o país vem apresentando em termos de aprendizagens escolares. Isso poderá, portanto, mascarar os eventuais avanços obtidos na educação brasileira. Todavia, a Prova Brasil deveria ser realizada como termômetro para medir como os estados, municípios e escolas estão em relação a 2019, última edição do exame, e ajudar na construção de uma política educacional capaz de reduzir os eventuais níveis de desigualdade acentuados pela pandemia. Mas seus resultados não deveriam ser usados para calcular o Ideb. Na minha opinião, o Ideb de 2021 deveria ficar para 2023, já que é aferido a cada dois anos.
O ano de 2021 não será fácil. Como já afirmei em outros artigos neste mesmo jornal, vai exigir mais que nunca planejamento e foco, pois teremos dois anos em um - já que será necessário incluir nas atividades escolares deste ano as aprendizagens não desenvolvidas em 2020.
Mozart Neves Ramos, professor Emérito da UFPE e titular da Cátedra Sérgio Henrique Ferreira da USP - Ribeirão Preto