A segunda onda da Covid-19 continua atormentando a rotina da maioria dos hospitais, que tiveram que se estruturar para atender à demanda crescente de pacientes graves. O receio de contrair a doença, aliada à inexistência de tratamento específico, tem levado à procura de medicamentos ou suplementos que aumentem a imunidade. Um dos produtos mais propagados em mídias sociais, na atualidade, é a Vitamina D, cujo fascínio pelo uso, com a pretensa esperança de proteção contra infecção respiratória, já ocorre há quase cem anos. Tem sido postulado que níveis séricos ideais de 25-hidroxivitamina D podem conferir propriedades imunomoduladoras e anti-inflamatórias, beneficiando, assim, os infectados pelo novo coronavírus. Esta suposição é verdadeira? Como se trata de produto natural, facilmente disponível, o seu uso carece de prescrição médica?
Enquanto existem evidências de benefícios da função da Vitamina D, no sistema esquelético, a ação protetora no trato respiratório continua controversa. Vale ressaltar, ainda que, apesar de alguns estudos observacionais terem sinalizados para evolução desfavorável de portadores de doenças agudas graves e
com níveis baixos de metabólitos da Vitamina D, até o momento, o benefício da sua suplementação, quando avaliada mediante estudos robustos não se concretizou. A pandemia vigente tem despertado na comunidade científica interesse renovado em avaliar as ações desta vitamina, no combate à replicação viral e no controle da hiperinflamação, que têm um papel importante na patogênese desta trágica virose.
Estudo recentemente publicado na conceituada revista científica JAMA, demonstrou em 4.368 voluntários, com níveis baixos de Vitamina D (< 40mg/dL), que a suplementação não protege contra a virose, sugerindo, todavia, que pode prevenir formas mais graves da doença. Por outro lado, o mesmo periódico divulgou um estudo brasileiro que, também, não evidenciou benefícios na utilização de superdosagem da referida vitamina, no tratamento de pacientes internados, com formas moderadas
e graves da Covid-19. Dessa forma, devemos manter o nível sanguíneo de Vitamina D acima de 30mg/dL, ingerindo, adequadamente, carnes, leguminosas, leite e derivados e frutos do mar, procurando, também, manter exposição solar periódica. Por outro lado, a suplementação quando indicada deve ter orientação médica.
Antônio Carlos Sobral Sousa é professor titular da UFS e Membro das Academias Sergipanas de Medicina, de Letras e de Educação
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