A ideia de um projeto para o Nordeste, no centro desse debate sobre a Transnordestina, deve nos levar a repensar o Brasil. E começo por lembrar que vivemos uma complexa transição estrutural com reacomodação nas relações entre os centros de poder, econômico e político. Grave porque o processo de modernização já não se ancora na integração das economias regionais, agravando a concentração de riqueza. Já dizia Celso Furtado (em O Nordeste e a Saga do Sudene) que "na fase formativa em que se encontra a economia brasileira o essencial é a ativação do potencial produtivo interno e a integração dos mercados regionais, principais fatores de dinamização econômica."
Ocorre que o discurso das elites do Brasil desenvolvido, em favor da igualdade, não considera que a unidade nacional tenha fundamento econômico e ético da distribuição dos frutos do desenvolvimento de maneira menos desigual. Primeiro tema que se aponta, em um processo assim, é a oposição entre irracionalidade coletiva e racionalidade específica, que constitui a essência do Dilema de Prisioneiro. Como os atores são prisioneiros de mútuas desconfianças, cada qual procurará maximizar seus interesses particulares, impedindo a afirmação de uma vontade coletiva. O que se vê, sem dúvida, também nos debates sobre a Reforma Tributária. Em situação com intensa competição, instituições ainda instáveis e regras sempre mudando, o país inevitavelmente acabará priorizando comportamentos individualistas, sem que sejamos capazes de conversar sobre uma estratégia de ação coletiva. O que se opera em níveis diversificados: nas relações entre Estados da Federação; e, também, nas classes sociais economicamente privilegiadas, que não aceitam aumentar sua contribuição para a superação de desigualdades; nos cartórios privados, que se esforçarão por manter suas possessões; no corporativismo, pela manutenção de seus privilégios.
Por tudo, então, temos que ser capazes de pensar o Nordeste com nossas próprias cabeças. Sobretudo agora. Sem esperar por atores políticos que, antes de pensar o país, priorizam sobretudo interesses de seus próprios grupos políticos. Ou seus bolsos. E sem contar com investimentos orçamentários que dificilmente virão, considerando o volume de nossa dívida pública. Seremos capazes disso? Ou vamos continuar, como na lição de seu Luiz, a só pedir esmolas?
José Paulo Cavalcanti Filho, advogado
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