O prêmio Nobel é muito importante, inclusive os de literatura e da paz. Não vou descer a detalhes porque o leitor é bem informado sobre o assunto. Direi apenas que o seu julgamento, feito por homens, está sujeito a influência política, que, por sua vez, dobra-se aos chamados grupos de pressão. E sendo política a arte dos conchavos, flutua através dos anos ao sabor das conveniências de ocasião. E muitas injustiças foram cometidas.
O Brasil teve alguns escritores que mereceram a medalha e o diploma, mas até agora nenhum os recebeu. Jorge Amado, pelo conjunto da obra e sua fecundidade, com quarenta e nove livros publicados no país e no exterior, traduzidos em quarenta e nove idiomas, teve seu nome indicado diversas vezes, sem sucesso.
Sua carga era pesada e complicada porque ele se filiou ao Partido Comunista, ao qual foi sempre fiel. Quando o partidão começou a querer mandar em seus romances, ele rompeu com o partido e passou a ser criticado pela esquerda e pela direita, sempre desconfiada com ele. A Igreja Católica, arauta do perdão, nunca perdoou seu linguajar "permissivo" e "anticlerical". Mas o tempo passa. E se o baiano foi preterido por (entre outros motivos) contribuir com obra de cunho social e político, os autores latino-americanos que ganharam o Nobel, ganharam justamente pela mensagem social e política de suas novelas que influenciaram gerações dos que os sucederam. Mera ironia ou conscientização dos jurados?
Dom Helder Camara e Dom Evaristo Arns foram outros brasileiros merecedores do Nobel da Paz e que não o receberam. O dinâmico arcebispo de Recife e Olinda foi acusado de ter sido "integralista" na mocidade e "comunista" na maturidade. Poucos sabem que o PC combatia sua atividade pastoral por achar, no seu pragmatismo ideológico, que suas "esmolas" aos pobres "retardavam a revolução". Pode parecer piada de mau gosto, mas é a verdade histórica.
Este ano o prêmio de Literatura foi para Abdulrazac Gurnah, de setenta e dois anos, nascido na Ilha de Zanzibar, plantada no Oceano Índico, ao largo da Tanzânia, que migrou para o Reino Unido ainda jovem. Denunciou a saga e o martírio dos refugiados, sendo ele mesmo um deles. E o da paz contemplou a jornalista filipina Maria Ressa, de cinquenta e oito anos, e o jornalista russo Dmitry Muratov, pela defesa da ampla liberdade de imprensa e de expressão, condição básica para o exercício de democracia. O destino é cruel: Castro Alves e Euclides da Cunha não receberam o Prêmio Nobel.
Arthur Carvalho - Academia Pernambucana de Letras Jurídicas
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