ARTIGO

Maid, série da Netflix, retrata a realidade de modo espantoso

"A protagonista foge do seu marido abusivo com a filha no meio da noite, sem ter onde morar, sem emprego e sem ninguém para ajudar. Tudo que lhe resta é sobreviver limpando privadas imundas e cuidar da filha". Leia o texto de Ermano Melo

Cadastrado por

ERMANO MELO

Publicado em 29/10/2021 às 6:06 | Atualizado em 23/11/2021 às 3:07
Maid entrou no catálogo da Netflix neste mês de outubro - DIVULGAÇÃO/NETFLIX

O universo não conspira a seu favor; você não merece nada; provavelmente não vai trabalhar no que gosta e esse é um texto de autoajuda. O universo tenta lhe destruir e no fim consegue; não merecemos nada desde que Adão e Eva comeram o fruto proibido; você tem que trabalhar no que conseguir e -se for inteligente- aprender a gostar do que faz.

Maid -faxineira- é uma série da Netflix que retrata a realidade de modo espantoso. A protagonista foge do seu marido abusivo com a filha no meio da noite, sem ter onde morar, sem emprego e sem ninguém para ajudar. Tudo que lhe resta é sobreviver limpando privadas imundas e cuidar da filha.

Ela quebra algumas regras que, se for eticamente justificável, pode ser certo, caso contrário pagará o preço. Descobre que culpar os pais não resolve, que só disciplina e trabalho duro funcionam e viver uma fantasia eventualmente é permitido. Há momentos de tristeza profunda, mas é preciso se levantar. Alex não pode se dar ao luxo de buscar a felicidade ou autoestima pois há uma vida real bem na sua frente e seus sonhos precisam submergir.

O que se vê é a busca do sentido da vida sem se entregar ao niilismo ou depressão. Encontra no amor à filha o motivo para viver. Jordan Peterson ensina que é preciso almejar algo que justifique sua existência.

Ser feliz e ter autoestima - que hoje nada mais é que narcisismo patológico - é consequência de uma vida com um objetivo valoroso. É preciso afogar o ego comumente hipertrofiado e despertar o que, segundo Sócrates, normalmente já está dormente em nossa alma.

A pandemia pode ser essa faísca, aproveite que não morreu e mire o seu alvo. É preciso que este tenha a centelha do divino; que seja nobre como um filho ou algum tipo de arte; uma causa justa ou uma pergunta a ser respondida; Pode ser até a beleza de um jardim ou a devoção a um animal, contanto que seja elevado e venha da alma.

No ziguezaguear dessa caminhada, algo inesperado pode surgir e mudar o ponto B da chegada que nunca será alcançado pois é impossível, sempre há algo mais a ser feito. A busca é que traz sentido e adormece a dor, pois assim é o espírito humano, que necessita do transcendente para sobreviver ao caos e enfrentar o fim com dignidade.

Ermano Melo, oftalmologista

 

*Os artigos são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do JC

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