A Inglaterra acaba de confirmar a eficácia da primeira pílula para o tratamento precoce da Covid 19 e a boa notícia correu o mundo. Todos sabem que não é fácil combater diretamente os vírus e por essa razão os resultados agora obtidos contra o coronavírus foram tão animadores. No caso específico, o medicamento testado teve a aprovação divulgada ao se constatar significativa redução de hospitalizações e mortes, quando comparado ao placebo.
A expectativa é de que, em breve, estejam disponíveis medicamentos aproximando a mortalidade de zero quando administrados logo após a contaminação e que sejam distribuídos a baixo custo para os países pobres.
Também foi a Inglaterra que largou na frente do mundo em 2020 atestando a eficácia e segurança das vacinas e recomendando aplicação em massa.
Por essas e outras, muitos médicos brasileiros sonham em estudar, estagiar ou trabalhar no Reino Unido onde existe estímulo à pesquisa, possibilitando que esteja entre os países que mais produzem avanços em termos de diagnóstico, tratamento e cura de doenças. No Brasil, cientistas não encontram espaço e promove-se o mérito da esperteza e malandragem, combinando com cortes de verbas para pesquisa que condenam o país ao atraso sem fim. Aqui se faz apologia da anticiência, de líderes que não gostam de ler e se gabam de que basta aprender "na escola da vida".
Nos países onde a ciência tem vez, não se usa vitamina, antibiótico, antiparasitário, oligoelementos, ozônio, hormônios ou anti-hormônios para combater vírus, salvo se em protocolos de estudos aprovados por órgãos que regulamentam pesquisas em seres humanos. Não quer dizer que, a luz de estudos clínicos bem conduzidos, um ou outro não possa vir a ter alguma eficácia.
No Brasil, aposta-se em tratamentos como quem joga na loteria, como se o conselho federal regulamentasse a autonomia do jogo no país. Fala-se em conspiração contra o jeitinho brasileiro, sem atentar para indução de relaxamento na prevenção, a demora em iniciar a vacinação, a promoção de aglomerações ou o desestímulo ao uso de máscaras. Aqui, a esperteza foi capaz de anunciar mortalidade zero da Covid 19 antes de Nova York, Londres, Tel Aviv, Berlim ou Paris. Mostrou que, para zerar os óbitos, bastaria trocar o código internacional de doenças (cid) no atestado de óbito.
É muita esperteza. Não sei por que ninguém pensou nisso antes. Deve ser mesmo uma conspiração. Só pode!
*Viva o povo brasileiro que não é bobo e corre para os postos de vacinação.
Sérgio Gondim, médico
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