O conceito de 'ineptocracia' se ajusta ao cenário político brasileiro

"Foi d'Ormesson, o homem deslumbrado pelo Brasil, que inventou a palavra "ineptocracia" para descrever a democracia de vários países, entre eles, o nosso". Leia o artigo de Dayse de Vasconcelos Mayer
DAYSE DE VASCONCELOS MAYER
Publicado em 13/02/2022 às 6:00


Pouco se fala no Brasil - talvez por nescidade - de Jean d'Ormesson, escritor, editor, ator e filósofo francês que integrou, aos 48 anos, a cadeira 12 da Academia Francesa de Letras. Também foi colaborador, entre outras, de Paris-Match, Ouest-France e Nice Matin. Em 2015 ele recebeu a maior honraria concedida a um intelectual francês: a publicação de sua obra completa na influente coleção de "La Pléiade", da editora Gallimard. O presidente francês Emanuel Mácron, no dia do falecimento de escritor, em 05 de dezembro de 2017, aos 92 anos, descreveu o intelectual com as seguintes palavras: "Ele era o melhor do espírito francês, uma mistura única de inteligência, elegância e malícia, um príncipe de letras que sabia nunca se levar a sério".

D'Ormesson, filho do embaixador da França no Brasil - André Lefèvre, marquês de Ormesson - nutriu uma grande paixão pela nossa terra. Era um dos intelectuais mais conhecedores e admiradores da nossa literatura e dos nossos homens ilustres.

Em discurso pronunciado na ABL, ele recordou, com acalanto, os tempos em que aqui residiu. Num dos trechos do pronunciamento ele declara: "Lembro-me, com fascinação, o dia em que cheguei ao Rio de Janeiro - uma das cidades mais belas do mundo com o Pão de Açúcar, o Cristo Redentor, o Corcovado..."

A respeito dos escritores brasileiros, concedeu grande prestígio a Jorge Amado, afirmando que ele era parte da herança, não só do Brasil, não só da França, mas da humanidade. Não esqueceu Gilberto Freyre, na obra Casa Grande e Senzala e Machado de Assis com as "Memórias Póstumas de Brás Cubas.

Pois foi d'Ormesson, o homem deslumbrado pelo Brasil, que inventou a palavra "ineptocracia" para descrever a democracia de vários países, entre eles, o nosso. O neologismo, com o significado de inepto, ineficiente, desqualificado, incompetente... seria "o sistema de governo no qual os menos preparados para governar seriam eleitos pelos menos preparados para produzir e no qual os menos capazes de se auto sustentar são agraciados com bens e serviços pagos com os impostos e confiscos sobre o trabalho e riqueza de um número decrescente de produtores".

É preciso deixar claro que o conceito sugerido pelo autor é muitíssimo atualizado e se ajusta impecavelmente ao cenário político brasileiro. Basta analisar as ideias de forma acurada, sem preconceitos e sem ponderações sobre direita ou esquerda - conceitos há muito superados.

Dayse de Vasconcelos Mayer, advogada e escritora.

 

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