OPINIÃO

Os desdobramentos da guerra da Ucrânia e seus os impactos econômicos ainda são imprevisíveis.

Os desdobramentos da guerra da Ucrânia e seus os impactos econômicos ainda são imprevisíveis. Mas, embora pareça muito improvável que haja um retrocesso da globalização, os soluços provocados pela Covid-19 e pela guerra deveriam levar a uma reflexão sobre os fatores de risco e instabilidade da interdependência comercial. Negociações na OMC-Organização Mundial do Comércio poderiam criar regras e protocolos comerciais para evitar a desorganização ou quebras bruscas das cadeias de suprimento.

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SÉRGIO C. BUARQUE

Publicado em 30/03/2022 às 11:23
Prédio ucraniano atingido por ataque russo - STR / UKRAINIAN STATE EMERGENCY SERVICE / AFP

A pandemia da Covid-19 tinha provocado um primeiro susto no sistema econômico globalizado quando evidenciou a excessiva concentração da produção de insumos médico-hospitalares em dois países, China e Índia. Mas, o impacto da invasão da Ucrânia, pelas tropas russas, será bem mais amplo e severo, considerando a grande dependência de petróleo, de gás natural, de trigo e de fertilizantes dos países em guerra, as sanções econômicas e financeiras e o isolamento econômico da Rússia. O resultado é uma crise de confiança das relações comerciais de interdependência que pode estimular eventuais medidas protecionistas. Mas, nada que possa levar a um retrocesso no processo de globalização.


No caso da permanência do isolamento, a Rússia pode avançar numa parcial autarquização econômica, favorecida pelo tamanho do mercado e pelo grande potencial de riquezas. Ao mesmo tempo, Putin tem dado sinais de que pretende compensar a perda do comércio global com a formação de um bloco econômico separado, com China e Índia, duas grandes economias que têm mantido neutralidade política na invasão da Ucrânia. Além de perder competitividade econômica, a Rússia ficará dependente da China.

Mesmo que este bloco asiático venha a se constituir, China e Índia vão continuar apostando na integração econômica e comercial global que, sabidamente, favoreceu o acelerado crescimento das duas economias. O grande impulso da globalização, a partir do início da década de 90 do século passado, resultou de dois movimentos combinados e independentes: a inserção da China no comércio mundial e a dissolução do bloco soviético, com a abertura dos mercados da própria Rússia, das repúblicas soviéticas e dos países da esfera de influência de União Soviética. Excetuando a Rússia, nenhum desses países pretende ficar fora do mercado global.


Os desdobramentos da guerra da Ucrânia e seus os impactos econômicos ainda são imprevisíveis. Mas, embora pareça muito improvável que haja um retrocesso da globalização, os soluços provocados pela Covid-19 e pela guerra deveriam levar a uma reflexão sobre os fatores de risco e instabilidade da interdependência comercial. Negociações na OMC-Organização Mundial do Comércio poderiam criar regras e protocolos comerciais para evitar a desorganização ou quebras bruscas das cadeias de suprimento. Ao mesmo tempo em que desestimulam a adoção de mecanismos nefastos de protecionismo.

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