OPINIÃO

Erraram os dois: que o episódio da noite do Oscar nos sirva de lição

Há formas de se responder a um ofensor longe da violência. As atuais gerações precisam ter isso claro.

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Gustavo Henrique de Brito Alves Freire

Publicado em 31/03/2022 às 13:59 | Atualizado em 31/03/2022 às 14:00
Will Smith sobe ao palco do Oscar para dar tapa em Chris Rock - Reprodução de TV

O termo “masculinidade tóxica” remete às características estereotipadas normalmente atribuídas aos homens. Tipo dizer que homem que é homem não chora e é agressivo por natureza.

Há tempos perdi o interesse na cerimônia do Oscar. É superficial e cafona. A edição 2022 desceu a ladeira de vez nessa escala ao ser marcada pelo tabefe do ator Will Smith no comediante e então apresentador da premiação de melhor documentário, Cris Rock.

Toda a América conhece o tipo de material com que trabalha um comediante como Cris Rock, o “offensive humour”. Rock “brincou” com a condição de saúde capilar da esposa de Will Smith, Jada, também atriz, a alopecia. Smith então invadiu o palco da transmissão – que é ao vivo – e aplicou um tapa de mão cheia em Rock, que não revidou. Erraram os dois. Óbvio que sim, os dois. Cris Rock pela falta de empatia e respeito. Will Smith por achar que as coisas se resolvem no muque.

Seria mais eloquente que Smith, que, por sinal, consegue quando quer ser um bom ator em múltiplos gêneros, tanto que venceu a categoria este ano por um drama, diante da atitude de Cris Rock, deixasse o evento em protesto ou usasse da tribuna para criticar o ocorrido ou até anunciasse medidas legais contra o comediante. Nunca que evocasse no imaginário, inclusive, brasileiro, a tese da “legítima defesa da honra” que se usava antigamente no Tribunal do Júri como exculpante para o homicídio passional.

Mesmo com audiências pífias nos últimos tempos, o Oscar ainda é entretenimento familiar. E crianças são esponjas. Se nem o humor pode tudo, afinal, a liberdade de expressão não é um cheque em branco, a reação à ofensa a partir do intuito de fazer rir deve ter presente que não mais vivemos sob a égide da Lex Talionis. Há formas de se responder a um ofensor longe da violência. As atuais gerações precisam ter isso claro.

Não se cuida de “treta”, “torta de climão” ou “meme”. Existem limites para que se coexista em paz em sociedade. Limites que ambos os personagens que dominaram pelas razões erradas a noite do Oscar 2022 mostraram desconhecer. Que sirva de lição.

Gustavo Henrique de Brito Alves Freire, advogado

 

 

 

 

 

 

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