Uma vez participei de um edital com o projeto "História das minhas histórias". Não foi habilitado por minha culpa, faltou documento. Mas lembrei disso agora porque gostaria de contar a história do VIRTUOSI NA SERRA.
Para quem frequenta o Festival de Inverno de Garanhuns conhece muito bem o palco VIRTUOSI de música erudita que fica na Catedral de Santo Antônio. Em 2004, o Maestro Rafael Garcia e eu fomos convidados a implantar um pólo de música erudita no FIG. Foi uma surpresa muito agradável para nós. Começamos a planejar a programação e esta primeira edição contou com dois finais de semana. A resposta do público foi tão entusiástica que o VIRTUOSI encontrou ali um palco para ficar durante os meses de julho em Pernambuco.
Nos primeiros anos gostávamos sempre de sortear CDs dos artistas convidados, mas pedíamos que cada um escrevesse uma frase sobre o evento e colocasse numa urna ao pé do altar. Assim aconteceu e o que vimos foi extremamente gratificante. "Sucesso absoluto no FIG. Continuem que o povo aprova e apoia...", "O Virtuosi na Serra está sendo um espetáculo imperdível", "Vocês são a presença da música celestial no Festival de Inverno. Viremos sempre", O Virtuosi na Serra é sem dúvida a melhor programação do festival" (tenho nome e telefone de quem escreveu), "Achei maravilhoso. Estou morando aqui e cada vez mais encantada com a possibilidade de ouvir música clássica da melhor qualidade com esta excelente programação" ou "Tenho 9 anos, amo o Virtuosi e adoro ouvir os concertos. O Virtuosi me fez gostar da música clássica"...
São inúmeras as declarações. Passaria o dia aqui copiando... Todo mundo sabe da qualidade e da excelência das apresentações artísticas do VIRTUOSI. Quem não se lembra do Maestro Rafael Garcia? Sua voz, seu choro, sua emoção, sua música? O Requiem de Mozart, diversas árias de ópera, a vinda de Adriane Queiroz, Edson Cordeiro. João Carlos Martins e Arthur Moreira Lima! Por ali passaram tantos artistas que fica até difícil de mencionar. O repertório? Acho que daria para escrever uma enciclopédia. Quem foi, viu e gostou.
Quem pensaria que a Esplanada Guadalajara, hoje Mestre Dominguinhos, receberia mais de 20 mil pessoas para assistir uma orquestra sinfônica ou de câmara? Lembro da equipe técnica do palco principal falando "por que não temos todas as noites esse espetáculo? Por que deixamos a praça vazia nesse horário???". Claro que estávamos sempre muito felizes com a realização.
Passamos nesta trajetória por três governos diferentes no estado e o VIRTUOSI se consolidou dentro da programação do FIG apesar da mudança de gestão. Nossa única discussão era sobre os valores que poderíamos ter para fazer a grade da programação. Este ano, sem maiores conversas ou delongas, o VIRTUOSI não foi convidado a participar da programação. Teve que participar do evento pela seleção em edital. Sem outra opção, tive que fazer a inscrição.
Mas lembrei de outra história. Quando era pianista da OSESP com Eleazar de Carvalho, o Maestro queria botar algum ou alguns músicos para fora. Disse que teríamos todos que fazer prova para ocupar nossos lugares. Eu falei: "Eu também? Fazer prova para o lugar em que já estou? Não. Se não gosta, me demita". Foram 17 anos de festival, acho até que na realidade foram 18 pois o primeiro festival se chamou "Música na Igreja". Mas então por que agora depois de tantos anos estamos a ser julgados? Para não abandonar o público de Garanhuns e do interior do estado, fiz meu dever de casa e inscrevemos o projeto no edital. Mandaram, eu obedeci. Espero que seja aprovado e que o VIRTUOSI NA SERRA continue no seu caminho.
O programa está pronto. Artistas convidados. Se o festival sentirá falta, não sei. O público certamente irá. Igreja aberta com um público muito diverso. Foram 18 anos inesquecíveis para nós, para os artistas e principalmente para o público. Conto com a sensibilidade do novo modelo e da nova forma de gestão para entender e compreender o que é o VIRTUOSI em um evento nestas dimensões no estado. Alguém poderia explicar o que é o VIRTUOSI? Quem sabe não ajudaria?
Ana Lucia Altino é pianista, fundadora do festival VIRTUOSI, Doctor in Piano pela Hochschule für Musik Detmold, Alemanha, Doctor in Musical Arts - piano performance pela Boston University, criou o Departamento e o Curso de Bacharelado em Música da UFPB, foi presidente e fundadora da Orquestra Filarmônica Norte/Nordeste e diretora administrativa das Orquestras Sinfônicas da Paraíba e de Campinas, SP.