O século XX se notabilizou pelos avanços tecnológicos que continuam a passos largos, ênfase para a comunicação que sendo um estreitamento entre os povos deveria ser também uma aproximação entre os homens.
Ora, a tecnologia, porquanto tecida pelas mãos do homem, é filha do humanismo e, como tal, deveria ser utilizada apenas para o bem-estar de todos os homens e do homem todo. No entanto, o homem parece vítima do seu próprio feitiço, esquecendo-se de que, segundo a lei de Deus, deveria se amar, como a si mesmo.
O tempo corre veloz. O menino que está no adulto é a melhor testemunha do tempo. Caetano Veloso, em Força Estranha, dá a imagem do mundo infantil nos rodopios das estações da vida. Que venha o poeta, um dos grandes do tropicalismo baiano:
Eu vi um menino correndo
Eu vi o tempo
Brincando ao redor do caminho
Daquele menino
O homem, para redimir o homem, precisa encontrar no seu mundo guardado as reminiscências da criança que cresceu em si mesmo, sendo esta a magia da sua temporalidade, o condão do seu caminhar.
Chamo João Cabral de Melo Neto, poeta pernambucano que, mantendo os pés na terra feita de argila e em chão batido, assim ficava sempre próximo dos severinos retirantes, sentindo a pobreza do Recife, abraçado à realidade pernambucana e regional.
Podeis aprender que o homem
é sempre a melhor medida.
Mais que a medida do homem
não é a morte, mas a vida.
Haja fome, desamparo e injustiças sociais! Haja ambição e luta pelo poder! Haja guerras e desavenças! O Capital e o Trabalho, antagônicos, assumindo os seus extremos, para, diametralmente opostos, os colocarem nos 180 graus de divergências e de discórdias.
Maquiavel conceituou o homem como um predestinado para o mal, ao contrário de Rosseau que o considerou naturalmente bom. Maquiavel ou Rosseau? Penso que o homem nasce e vive potencializado para o bem ou para o mal, segundo um sistema de variáveis, algumas controláveis, outras incontroláveis.
A educação e uma convivência familiar saudável, um Deus e uma Fé, boas amizades, são básicos, para as crianças e para os jovens, à formação do homem bom, do homem pleno. Quando às crianças escapam o amor dos seus entes queridos, quando não se lhes dispõe a escola, quando somente se lhes sopram ventos adversos, esse mundo infantil, semeado no mal, não pode frutificar no bem, porque singular e plural são filhos do meio.
O que se pretende, neste milênio, quando o mundo globalizado vivenciará a educação, como principal fronteira, quando o “aprender a fazer” e o “aprender a ser” serão basilares à vida, é ver o homem, detentor da técnica e da tecnologia, sabendo utilizá-las para o bem-estar da humanidade, para a conquista da paz e para uma ampla e irrestrita ação social entre nós, filhos do mesmo Pai, que ao Pai desejamos voltar livres do pecado e com a leveza da consciência que somente aos bons se pode conferir tamanha graça.
Os animais também têm as suas técnicas de sobrevivência. Ao ser humano, adveio a tecnologia que subtende uma inteligência. Pena que essa tecnologia nem sempre esteja à disposição do homem, já que atinge mais a vilania do que a alma das pessoas, seres frágeis que somos quando diante das facilidades da vida.
A ingratidão continua a lepra da alma. O outro, um desconhecido. Quando não, vítima da ganância e da ambição humana/desumana. “A alma do outro é uma floresta escura,” afirmou o poeta Rainer Maria Rilke.
A inveja, esta a parte mais frágil da raça humana. A acadêmica Lygia Fagundes Telles reclama do “olhar oblíquo da inveja vertendo sua lágrima verde de bílis.” Neste pecado o combustível do ódio e da vingança, do ranço e da mágoa – o mal do caimismo e, quiçá, do mundo, desde os seus primórdios.
Que o saber conduza o homem à sua própria humanização e o amor seja a pedagogia do respeito e da cidadania, e que as pessoas enxerguem no tempo uma permanente busca de um ponto futuro: Deus!
Roberto Pereira, ex-secretário de Educação e Cultura de Pernambuco e membro da Academia Brasileira de Eventos e Turismo (Abevt).