OPINIÃO

Justiça suprema

Uma justiça suprema com juízes normais, discretos e isentos, para que o povo não espalhe ao vento, em progressão maior do que octilhão de pastor, o ditado popular então modificado para: de caneta de juiz e bumbum de neném, todo mundo sabe o que vem

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SÉRGIO GONDIM

Publicado em 29/09/2023 às 0:00 | Atualizado em 30/09/2023 às 15:44
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Sempre ouvi dizer que de cabeça de juiz e bumbum de neném ninguém sabe o que vem. Para o bumbum de criança continua valendo, mas o voto do juiz está ficando previsível. Por mais controverso que seja o tema, se quiser pode apostar, é fácil acertar o voto de cada um.

Depois que os julgamentos se tornaram públicos, opiniões transbordam fora dos autos. Com a exposição maciça, basta dizer o tema do processo e quase sempre estará definido o placar. Não tem graça ou torcida, restando ao povo comentar a cabeleira do juiz ou a falta dela.

É estranho, pois julgando sob a mesma constituição, uma divergência ou outra seria compreensível já que a linguagem da lei parece elaborada propositadamente para puxar para lá ou para cá, mas não consta que a interpretação deva ser para o lado de quem indicou o ministro, para o partido que simpatiza ou para a religião que pratica.

É estranha também a regra para escolha dos supremos, uns por serem terríveis, outros por serem aliados ou até advogados pessoais. Por ser um tribunal tão importante para o país, merecia critérios mais compatíveis com tal importância.

Em ambiente de paixão política exacerbada, radicalismo, arrastão de intolerância, alguém precisa ter pulso, equilíbrio, moderação e credibilidade para conter arbitrariedades e aspirações autoritárias, venham de onde vierem. Por mais restrições e críticas que possa merecer (vide a incrível trapalhada da operação que foi sem nunca ter sido, a corrupção que existiu, mas não valeu, a condenação com pena cumprida recheada de irregularidades, falas destemperadas, o vai e vem dos despachos sob a mesma lei, excessos que não parecem exatamente de um tribunal constitucional), o poder judiciário é fundamental para o processo democrático. Quem iria conter os instintos ditatoriais, os aloprados, os racistas, quem iria abrandar a dor do 08 de janeiro?

A justiça também está sob ataques destrutivos, mas como guardiã da democracia merece esforços para aperfeiçoamento, para que não existam erros processuais supremos, anulação geral depois de anos de investigações, confissões, devoluções, arrependimentos, condenações, prisões, flagrantes e tudo o mais, dando margem à ressarcimentos por danos morais até a quem escondeu milhões e pode agora alegar que era dinheiro reservado para a gorjeta do entregador de pizza. Não pode dar argumentos para o descrédito.

Estivemos no limite e a democracia continua em perigo mundo a fora. Para fazer valer a lei maior, é fundamental contar com instituições que tenham credibilidade, autoridade e moral. Uma justiça suprema com juízes normais, discretos e isentos, para que o povo não espalhe ao vento, em progressão maior do que octilhão de pastor, o ditado popular então modificado para: de caneta de juiz e bumbum de neném, todo mundo sabe o que vem.

Um poder judiciário forte, para não ficar tudo nas costas de Freire Gomes.

Sérgio Gondim, médico

 

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