Vivenciamos uma nova era de revolução tecnológica com o desenvolvimento da Inteligência Artificial - IA. Ela oferece uma gama de aplicações em saúde, educação, manufatura, logística, marketing, entretenimento e muito mais. À medida que a pesquisa e desenvolvimento na área avança, a IA se torna cada vez mais presente na vida cotidiana, impulsionando a automação e eficiência em muitos setores. Surgem dispositivos que podem reconhecer rostos e interagir por meio de fala; robôs que automatizam processos; algoritmos que podem gerar textos, imagens, música; computadores que podem apoiar médicos para detectar com mais agilidade e eficiência doenças. São inúmeras aplicações que já causam grande impacto na sociedade e muitas não são nem percebidas.
No entanto, o sucesso da IA depende do intelecto das pessoas, que se fundamenta nas múltiplas inteligências e habilidades. Constituem o kit de ferramentas intelectuais humanas.
A Teoria das Inteligências Múltiplas foi desenvolvida por Howard Gardner, professor da Harvard University e autor de mais de 30 livros, sendo apresentada em 1983 no livro Frames of Mind: The Theory of Multiple Intelligences. Causou revolução à visão psicológica padrão do intelecto que acreditava haver uma única inteligência que avaliava a inteligência linguística e lógico matemáticas. O conhecido QI, Quociente de Inteligência. Gardner em suas pesquisas e estudos concluiu que são oito inteligências: Linguística (usar a linguagem para se comunicar bem), Lógico-matemática (compreender princípios de sistema casual e solucionar problemas matemáticos), Musical (reconhecer sons e ritmos, tocar instrumento, criar músicas e cantar), Espacial (lidar com formas, figuras, cores, espaço e a relação que existe entre eles), Cinestésica (realizar atividades esportivas, dança, teatro), Interpessoal (compreender outras pessoas, seus sentimentos, valores, interesses), Intrapessoal (compreender suas próprias emoções, motivações e reações), Naturalista (perceber características das plantas, animais, fenômenos da natureza).
Na perspectiva de Gardner, a inteligência é o potencial de cada indivíduo. As pesquisas constatam que as inteligências podem ser mais bem desenvolvidas em ambientes ricos de experiências, com ecossistema propício para esse fim. Muitos recursos que podem ajudar surgiram: Explorama (parque interativo com diferentes técnicas de aprendizagem), Scratch (linguagem de programação que facilita a criação de histórias interativas, animações, música e arte), MaKey MaKey (kit interativo para os participantes criarem projetos e atividades). A partir do seu trabalho, muitas escolas em todo o mundo têm desenvolvido atividades que vão além de aprender as disciplinas tradicionais - linguagem, matemática, química, entre outras. Ideias, conceitos, teorias e habilidades são apresentadas de várias maneiras.
Inspirado por Gardner, em 1995, o psicólogo e fundador do Yale University Child Studies Center, Daniel Goleman, pesquisou sobre o papel dos sentimentos nessas inteligências. Explorou o rico mar de emoções que torna a vida interior e os relacionamentos complexos, impactando a nossa atenção, memória e aprendizado; a habilidade para construir relações; a saúde física e mental; o processo de decisão. Como resultado, Goleman desenvolveu a teoria da Inteligência Emocional, conceituando-a como um conjunto de habilidades desenvolvidas para compreender e facilitar a interação interpessoal, preparando o indivíduo para gerir suas emoções e evitar, por exemplo, os descontroles que geram acessos de raiva.
A psicóloga e professora da Universidade de Harvard, Susan David, aprofundou a pesquisa e desenvolveu o conceito de "agilidade emocional". É um conceito prático sobre como as pessoas podem ser mais eficazes diante das mudanças num mundo instável, que muda num ritmo acelerado causando nas pessoas alto nível de stress e podendo provocar a aquisição de maus hábitos, como tomar decisões sem pensar razoavelmente, tornar-se compulsiva para comer e beber exageradamente.
Em 2006, Goleman complementa sua pesquisa sobre inteligência emocional, ao publicar livro sobre Inteligência Social (a ciência das relações humanas). As pesquisas sobre inteligência social tornaram-se mais importantes na medida em que as pessoas ficam cada vez mais absorvidas em realidade virtual, com a tecnologia concorrendo e abafando as relações humanas, criando uma espécie de autismo social. O e-mail, as redes "sociais", o celular invadem o nosso tempo pessoal e familiar quando estamos em qualquer circunstância. Pais e filhos podem ficar ausentes enquanto checam, compulsivamente, seus celulares. A conectividade digital também não separa o trabalho dos momentos de descanso, inclusive nas férias.
Avançando em pesquisas para o desenvolvimento do potencial humano, a organização "Parceria para o aprendizado do século 21 - P21" concluiu que o mundo empresarial, político e acadêmico requer profissionais, também, com habilidades que abrangem: pensamento crítico, criatividade, colaboração, comunicação, solução de problemas, flexibilidade, iniciativa, resiliência, uso de tecnologia, para citar algumas. Temas relevantes como consciências global e ambiental, economia, finanças, civismo, higiene, saúde precisam nortear o aprendizado. A formação empreendedora é prioritária. O mundo precisa de empreendedores para inovar, crescer sustentavelmente, gerar empregos, prosperar.
Todas essas abordagens devem ser essencialmente éticas. A inteligência artificial tem grande potencial para alavancar a competência do ser humano, no entanto, seu objetivo maior precisa ser o bem coletivo da humanidade em todos os aspectos. A instituição educacional é o ecossistema mais propício para o desenvolvimento das inteligências e habilidades, sendo necessário que possua uma equipe talentosa, capacitada para formar os futuros profissionais e líderes, que exercerão suas funções num mundo em constantes transformações e ritmo cada vez mais rápido.
Eduardo Carvalho, Harvard University Fellow