OPINIÃO

Avanços e retrocessos em 2023

Um brinde à ciência e ao ano novo! Um ou dois, no máximo. Deve fazer bem

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SÉRGIO GONDIM

Publicado em 05/01/2024 às 0:00 | Atualizado em 05/01/2024 às 11:32
Guerras: a humanidade regride
Guerras: a humanidade regride - Thiago Lucas

Foi aprovada uma nova vacina, mais eficiente e de menor custo, contra a Malária. Salvará a vida de dezenas de milhares de crianças a cada ano.

É impossível listar os incontáveis progressos no tratamento de diversos tipos de câncer ao longo do ano.

Foi aberta o que pode ser uma avenida para o tratamento da doença de Alzheimer, com possibilidade de modificar a progressão do declínio cognitivo. Atua sobre a biologia da doença através de anticorpos contra a proteína que se acumula inflamando e lesando conexões. Foi demonstrado que remove as placas do cérebro e lentifica o declínio cognitivo. Ainda não é a cura e tem efeitos colaterais, mas traz esperança depois de décadas sem novidades na área.

A primeira terapia de edição genética foi aprovada em dezembro. Corrigiu o defeito que determina a produção da hemoglobina defeituosa na anemia falciforme, curando por toda a vida e abrindo caminho para o tratamento de muitas doenças genéticas e câncer. Como uma borracha e caneta, a edição apaga uma letra do DNA e escreve outra, desligando também o gene responsável pela hipercolesterolemia familiar.

Várias proteções contra o vírus sincicial respiratório se firmaram em 2023. Vacinas para maiores de 60 anos e para as grávidas (protegendo o bebê) e anticorpos monoclonais para crianças mais vulneráveis.

Foram demonstrados os resultados de uma pílula para depressão no pós-parto que pode promover melhora em 3 dias.

A vacina contra Chikungunya foi aprovada em novembro.

Um spray nasal que pode reverter em minutos os efeitos da overdose de opióide foi liberado para venda livre e projeta reduzir milhares de mortes.

A vedete do ano foi a revolução no tratamento clínico da obesidade que impacta diabetes, doença cardíaca, articular, hepática e alguns canceres. Firmou-se o conceito de que se trata de um problema crônico com forte componente biológico e não uma questão de força de vontade. Drogas que atuam como hormônios naturais, inicialmente aprovados para o tratamento de diabetes, se mostraram capazes de induzir perda de peso. Em 2023 foi demonstrado que melhoram a insuficiência cardíaca, reduzem a progressão da insuficiência renal no diabético, o risco de AVC e de ataques cardíacos fatais e não fatais. As pesquisas percorreram um longo caminho, desde o início dos anos 80, passando por um lagarto gigante, o monstro Gila, desaguando nas substâncias que induzem perda de 15% do peso em 16 meses. Explodiram as vendas.

Estudos em andamento testam a possibilidade de que se mostrem úteis também para o tratamento de dependência a substâncias e para as doenças de Alzheimer e Parkinson. Na linha de produção surgiram tratamentos que simulam múltiplos hormônios, emagrecendo ainda mais, chegando a 25% de perda de peso. Os temores com relação à efeitos colaterais sérios foram se dissipando, principalmente ao comparar com os pacientes dos grupos placebo, estes sim, vítimas de significativo adoecimento relacionado com o excesso de peso.

Em 2023 a OMS decidiu que a COVID-19 não mais se constitui emergência de saúde pública de preocupação internacional, mas continuou matando milhares (mais em cidades de maioria republicana nos USA) e criou uma epidemia de sobreviventes, muitos às voltas com a COVID longa. A vacina mRNA, que antes estava em estudo para o Ebola e câncer, atendeu a prioridade da COVID e volta a atenção para o HIV e pesquisas estão em andamento visando evitar o retorno do câncer de pâncreas depois da remoção cirúrgica.

A pandemia mandou trabalhadores para casa e agora muitas empresas optaram por semanas de 4 dias depois da constatação surpreendente de aumento da produtividade, melhora dos parâmetros de saúde física e mental e até redução da emissão de CO2 como consequência do menor deslocamento de ida e volta ao trabalho.

Em 2023, trilhões foram gastos para promover mortes nas guerras, enquanto o acesso aos avanços da ciência é limitado pelo alto custo, disseminando a maior de todas as pandemias que assolam o mundo: a desigualdade.

Por fim, o uso de álcool em baixa dose, há muito considerado como tendo algum benefício, chega ao fim de 2023 com o conceito de que, para saúde, quanto menos melhor.

De toda forma, enquanto o assunto ainda provoca discussões, que tal desarmar os espíritos?

Um brinde à ciência e ao ano novo! Um ou dois, no máximo.

Deve fazer bem.

Sérgio Gondim, médico

 

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