Luciana Grassano Melo: mulher bonita
É bom esclarecer que a ministra de relações institucionais tem várias atribuições, incluindo o relacionamento com o Congresso e o partidos

Mesmo que estivéssemos vivendo no melhor dos mundos, livres do fascismo, do extremismo, dos juros extorsivos, da inflação, da ameaça autoritária, entre outras chagas contemporâneas, eu continuaria achando sem sentido a nova polêmica da semana passada.
Dentre os comentários que eu li e ouvi, fiquei na dúvida se o ataque das falas era ao presidente Lula ou à mulher bonita.
A extrema direita e parte da esquerda não gostou que o presidente Lula se referisse à ministra das relações institucionais, ex-presidente do Partido dos Trabalhadores, Gleisi Hoffman, como uma mulher bonita, cuja tarefa é a coordenação política do seu governo.
É bom esclarecer os leitores, que a ministra de relações institucionais tem várias atribuições, incluindo o relacionamento com o Congresso Nacional e os partidos políticos, a interlocução com os Estados, Distrito federal e Municípios e a coordenação do funcionamento do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social.
Parece evidente inferir que o presidente Lula não entregou a Gleisi Hoffman essa importante pasta porque ela é uma mulher bonita, apesar de ela ser uma mulher bonita.
Para quem não sabe ainda, Gleisi é deputada federal pelo Paraná, encontrando-se licenciada, e foi presidente nacional de seu partido entre 2017 e 2025, passando, na semana passada, a ocupar o cargo de ministra-chefe da Secretaria de Relações Institucionais da presidência da República.
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Construção da identidade feminina
Acho que parte da polêmica se deve ao fato de que, como afirma Simone de Beauvoir, não se nasce mulher torna-se mulher. Essa constatação, talvez, explique o excessivo rigor das mulheres bonitas mais jovens com a fala do presidente.
Certamente, quando mulheres bonitas ocupam espaços de poder muito jovens, nem a sua biografia, nem a sua autoconfiança estão suficientemente construídas e ser chamada de mulher bonita pode ofendê-la, na medida que, na juventude, a beleza é um atributo que se tem sem grande esforço, diferente da capacidade intelectual que se constrói com muito trabalho.
Diante da polêmica, me coloquei no lugar de Gleisi e, com toda a certeza, não me sentiria ofendida ou ameaçada se o presidente Lula alardeasse que eu sou uma mulher bonita, nem tão pouco me sentiria diminuída, em minha biografia. Muito pelo contrário.
Nos atuais anos que vivo, constato que perco muito mais fácil meus músculos e meu colágeno, do que a capacidade intelectual que adquiri ao longo de décadas de muita leitura e reflexão. Manter-se bonita na idade madura requer uma potência e energia enormes. E isso vale também para os homens bonitos.
Beleza, inteligência e articulação política
Apesar de ser brunette, fiquei feliz pelas loiras, que deixaram para trás um tempo em que eram chamadas de “lôrabúrra”, para assumirem status de ministra de Estado.
Não vejo incompatibilidade nenhuma entre a beleza da mulher e a sua inteligência e capacidade intelectual e acho que no campo das articulações políticas a beleza pode ser útil. Já dizia Vinícius de Moraes: As muito feias que me perdoem / mas beleza é fundamental.
Resumindo: Se me acharem bonita, podem declarar que eu vou gostar. Com relação às mais jovens, sugiro cautela, em especial nos espaços de poder.
Luciana Grassano Melo, professora titular da Faculdade de Direito da UFPE e procuradora do Estado de Pernambuco