Quase um ano atrás, uma tragédia em forma de temporal matou 137 cidadãos e deixou 125 mil desabrigados ou desalojados em Pernambuco. O volume de água vindo das nuvens fez com que a Prefeitura do Recife soltasse, ontem, um aviso de Alerta Máximo para a população, recomendando a permanência em casa, exceto em casos de inundação, deslizamento ou desabamento. O conselho é importante, e a população deve segui-lo, na medida do possível – muitos precisam tentar sair de casa para trabalhar e resolver suas questões, como por exemplo, de saúde. Mas o alerta vale, sobretudo, para as próprias autoridades: está em prova o que se fez em um ano, de medidas preventivas a obras de contenção, com o objetivo de evitar a repetição de desastres proporcionados pela intensidade pluviométrica.
No próximo domingo, um ato público no centro da capital irá lembrar as vítimas e os transtornos causados até hoje por quem passou pela agonia de um ano atrás. Com as chuvas fortes de novo acontecendo, no mesmo mês de maio, o que se espera é que as providências concretas que tenham sido tomadas de lá para cá demonstrem sua serventia. Para que não voltemos a contar cadáveres, nem buscar soluções emergenciais paliativas depois que o risco anunciado se revela catastrófico. E milhares de pessoas tenham que lidar com indenizações financeiras que não resolvem nada, e sequer dão conta de reparar prejuízos materiais na esteira das enxurradas.
No ato do próximo domingo, será cobrada, por 18 entidades, moradia digna para populações vulneráveis, bem como a garantia de moradia alternativa para quem precisar deixar a sua residência em função do risco. A criação de planos de contingência, a realização de simulações de desastres, a construção de abrigos emergenciais e o atendimento médico e psicológico para as vítimas, são algumas das reivindicações dos organizadores da manifestação, que incluem moradores de comunidades atingidas pelo temporal em 2022. Com a troca de comando no governo do Estado, as críticas do que ainda não foi feito são repartidas entre a gestão que saiu e a que entrou. O que não é o caso dos prefeitos: a administração é a mesma, e os municípios devem mostrar melhor preparo para as chuvas deste ano.
O cenário devastado em Jardim Monte Verde, no limite entre o Recife e Jaboatão dos Guararapes, volta à memória da população com a perspectiva de mais tensão nos próximos dias e meses. A condição de alerta máximo traduz, ao mesmo tempo, um chamado para a atenção das pessoas, mas também, descortina a incapacidade do poder público de dar tranquilidade às comunidades. Os fenômenos climáticos extremos já fazem parte da rotina dos moradores de áreas de risco – e dos gestores públicos – há décadas. O que tem faltado ao longo desses anos é decisão política proporcional à gravidade do que se experimenta, como os pernambucanos no ano passado. As chuvas estão de volta, e os alertas também. A esperança é que o pior não aconteça de novo.