É preciso vacinar mais contra a gripe

Estranhamente, o fabuloso êxito da vacinação contra a Covid pode estar na base de uma reação social contra as vacinas, de modo geral
JC
Publicado em 02/06/2023 às 0:00


A campanha de vacinação contra a gripe em Pernambuco está muito aquém do ideal. Com quase 1 milhão de vacinas sobrando, como se esperava, o final da campanha foi adiado. Com isso, abre-se maior prazo para a adesão dos pernambucanos de todas as faixas etárias, especialmente das crianças, através de seus pais, e dos idosos, para que a imunização coletiva seja capaz de prevenir surtos de maior dimensão e gravidade no estado. Mas a abordagem deve ser alterada, no sentido da eficácia que até agora, assim como a cobertura vacinal, não se atingiu.
Menos de 8% dos municípios pernambucanos chegaram à meta de 90% de cobertura da população vacinada. Ou seja, 92% das cidades têm chances de abrigarem surtos de gripe, sobrecarregando os sistemas de saúde e pondo em risco a vida dos habitantes. Seguindo orientação do Ministério da Saúde, a campanha no estado deve ir até 30 de junho, mas pode se estender ainda mais, pois a recomendação é prosseguir enquanto durarem os estoques dos imunizantes. O problema é que o vírus não vai aguardar todos se vacinarem. Quanto mais demorar para se atingir a meta de proteção, mais desprotegidos estarão os pernambucanos.
A cobertura vacinal por aqui se encontra abaixo de 56%, considerando-se o que foi utilizado das doses disponíveis nos municípios. A campanha nacional teve início em abril, para os idosos, e aberta para todos acima de 6 meses de idade, desde maio. Segundo a coordenadora do Programa Estadual de Imunização, Magda Costa, cada município adota sua própria estratégia para ampliar o alcance da vacina contra a gripe, com a substância trivalente repassada para a rede pública. Entre as estratégias, a busca ativa, de casa em casa, de quem não se vacinou, horário ampliado de vacinação e ações nas escolas, indústrias e feiras livres, de acordo com a coordenadora.
Diante da resposta da população, no entanto, é preciso ir além do mais do mesmo. Algo não está sendo bem transmitido, ou deixando de ser comunicado, no momento em que se verifica tão baixa cobertura. A necessidade da vacinação está sendo minimizada por muitos, talvez como um efeito da imunização contra a Covid. Uma parcela de indivíduos também se recusa a tomar qualquer vacina, influenciado por campanhas mentirosas distribuídas nas redes sociais, que desprezam os avanços científicos e lançam fake news ao compartilhamento massivo. É para esses dois grupos, principalmente, que as autoridades sanitárias e as equipes de comunicação dos governos devem focar informações e mensagens bem trabalhadas, visando a reversão da mentalidade anti-vacina.
A realização de mutirões e iniciativas diversas faz sentido, mas não resolverá o problema, caso as pessoas continuem praticando o negacionismo imunológico. O mais estranho nesse fenômeno coletivo, que envolve Pernambuco e outros estados do país, e é observado noutras partes do mundo, é que se não fosse a vacina, a pandemia teria sido ainda mais traumática do que foi. O fabuloso êxito da vacinação contra a Covid pode estar na base de uma reação social contra as vacinas, de modo geral. É para desfazer esse contrassenso, que se torna risco à saúde pública, que os governantes têm que agir.

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