O hemisfério norte experimenta um dos períodos mais quentes dos últimos anos, com incêndios florestais no Canadá e ondas de calor que chegaram a matar pessoas devido ao rigor climático. Esta semana, a temperatura média da Terra passou de 17 graus Celsius, num valor recorde para a superfície do planeta, que alarmou os cientistas. O que não se trata de fenômeno isolado, mas de uma tendência que vem se acentuando. Mais de 7 trilhões de toneladas de gelo foram derretidas nos polos, em menos de uma década, com efeitos que ainda estão sendo estudados, para o volume de água e a temperatura dos oceanos, bem como os rebatimentos disso no ciclo de chuvas e de calor.
O equilíbrio da Terra não é o mesmo, a partir do instante em que as atividades humanas intensificaram o efeito-estufa, através dos gases poluentes lançados na atmosfera, sem falar no lixo sólido acumulado no solo e nas águas, ou na voracidade de consumo que afeta a biodiversidade, provocando mais desequilíbrio. O que vivemos agora, para muitos especialistas, é uma situação sem precedentes, porque está atrelada diretamente ao resultado da ação humana. Outras mudanças climáticas ocorreram antes, com a sucessão cíclica de glaciações e efeitos-estufa. Mas em nenhum momento a contribuição de uma espécie de vida foi tão clara, quanto desde o advento do homo sapiens.
O mês de junho mais quente registrado na história humana teve incêndios florestais na Canadá que formaram nuvens sobre cidades distantes, em cenários apocalípticos, por exemplo, em Nova York, nos Estados Unidos. No sul norte-americano, a onda de calor nas últimas semanas traz sensação térmica acima de 40º C, o mesmo acontecendo na China e na África, onde a temperatura beira os 50º C. A preocupação é maior com a junção das consequências da ação humana com a incidência do El Niño, que pode manter o extremo de calor por até um ano. O fenômeno é atribuído ao aquecimento do Pacífico equatorial – algo que pode estar sendo cada vez mais estimulado pelo aumento global na temperatura.
Sabe-se que os extremos climáticos não aparecem em apenas uma manifestação. Enquanto algumas áreas sofrem com a inclemência do sol, outras podem ver grandes chuvas e inundações. Tudo no pacote da mesma alteração climática. Os sinais de alerta decorrem da influência humana combinada às variações que o planeta poderia passar de qualquer maneira. A incerteza predomina, quando se buscam padrões climáticos depois de um período sem precedentes da interferência humana dobre o meio ambiente.
O calor que assusta lá por cima vem sendo sentido até no hemisfério sul, numa época tradicional de frio. Na Argentina e na Antártida, os termômetros têm marcado números muito acima do normal. As populações e os governos, em todo o mundo, precisam se preparar para a instabilidade climática, que já se mostra, e pode ser pior nos próximos anos.