Foi lançada campanha de conscientização, esta semana, para coibir práticas vexatoriamente comuns na Região Metropolitana do Recife. Passageiros e a população em geral estão habituados a ver adolescentes e jovens pendurados na traseira, na janela e no teto dos ônibus, na maioria das vezes em grupos, desafiando o perigo e assustando quem olha para a aventura. As formas arriscadas de pegar carona e utilizar o transporte coletivo afrontam a legalidade e o bom senso, pondo em risco o trânsito por onde os ônibus passam, alastrando a insegurança para além da mobilidade.
Como ressaltou a colunista do JC, Roberta Soares, tais práticas já causaram mortes e ferimentos graves nos jovens aventureiros. O tumulto que provocam nas viagens também significa prejuízo para os passageiros e transtorno para os motoristas, que temem ser culpabilizados por qualquer infortúnio. Os motoristas, aliás, foram autorizados a interromper as viagens durante esses casos. Eles devem ser também estimulados a acionar a polícia para punir os infratores, enquanto os passageiros aguardam que tudo fique em condição para dar prosseguimento ao trajeto. A solução para o problema é mais de comportamento social, do que da esfera pública exclusivamente. A população também deve fazer a sua parte, condenando e inibindo os riscos para todos.
O mote da campanha é “Pegar bigu e surfar, nem pensar – Denuncie quem não anda na linha” com informações claras para os cidadãos agirem pela segurança coletiva. O engajamento da população usuária de ônibus é fundamental para que os jovens percebam que estão não apenas transgredindo a lei e desafiando a morte, mas atrapalhando o cotidiano de compromissos e necessidades de muitas outras pessoas. O pressuposto da vida em sociedade é a colaboração e o respeito mútuo. Fazer do desrespeito uma distração, bem como da dificuldade alheia um objetivo, é próprio de quem não se importa com as consequências dos próprios atos, nem enxerga neles o peso da responsabilidade. Para quem assim age, as instâncias legais e o aparelho de Estado que cuidam da ordem e do bem-estar coletivo precisam ser acionados.
Não é por acaso que os abusos acontecem mais nos dias de jogos de futebol, quando a violência organizada se traveste de torcida. Nos domingos e feriados, as práticas também são mais observadas, com ou sem idas aos estádios. É importante o monitoramento dos períodos e das linhas onde ocorrem os atos, a fim de aperfeiçoar a prevenção à insegurança bem conhecida. O Ministério Público investiga as práticas, cobrando medidas efetivas do Grande Recife Consórcio de Transporte Metropolitano e da Secretaria de Defesa Social do governo de Pernambuco. A Justiça cumpre o seu papel, assim, pressionando os agentes devidos para impedir a continuidade dessas práticas.
Se uma realidade social e econômica fragilizada serve de pano de fundo para o tumulto nos ônibus e a exposição de tanta gente ao risco, cabe aos gestores públicos e privados do setor buscarem alternativas integradas de abordagem e intervenção, com as prerrogativas legais disponíveis e o princípio do bem coletivo em primeiro lugar.