Antigo gargalo ao desenvolvimento nacional, e motivo de tormento para a população, sobretudo nas regiões metropolitanas, a falta de mobilidade que emperra os brasileiros pode receber atenção devida em seu ponto central: a necessidade de investimentos maciços no transporte coletivo. A reversão da prioridade que hoje beneficia o automóvel, a motocicleta e até as faixas de circulação exclusiva para bicicletas – solução sustentável, mas inefetiva do ponto de vista da demanda da maioria – pode ocorrer até 2026, caso se concretize a aplicação de R$ 33 bilhões em projetos para o transporte coletivo, conforme anúncio feito pela Secretaria de Mobilidade Urbana do Ministério das Cidades, esta semana.
Os projetos devem ser voltados para ampliação de modernização de linhas de metrô, faixas exclusivas de ônibus e BRT. Do valor total previsto, R$ 27 bilhões vão para empreendimentos, com recursos de financiamento pelo FGTS e a fundo perdido do orçamento da União, e R$ 6 bilhões para a renovação da frota de trens e ônibus. Estados, municípios e gestores metropolitanos podem apresentar os projetos para o governo federal. Trata-se de um chamado irrecusável para os gestores desses níveis, e um incentivo para abraçar a questão metropolitana em um de seus nós clássicos e duradouros, a mobilidade.
Na Região Metropolitana do Recife, a gestão metropolitana ensaia os primeiros passos de retomada de governança interrompida desde que a FIDEM perdeu protagonismo, e o planejamento metropolitano coordenado pelo Estado deixou de ser do interesse do Campo das Princesas. A governadora Raquel Lyra e a vice, Priscila Krause, assumiram, nos primeiros meses da nova gestão, o compromisso de retomar a governança metropolitana. E o transporte coletivo é um dos assuntos que importam para todos os municípios da RMR, sendo uma das principais queixas da população há vários anos, tendo o metrô sucateado e os ônibus lotados e inseguros como focos das reclamações.
De acordo com o governo federal, irão receber primeiro os projetos estaduais e municipais que já se encontram em fase adiantada, com estudos de viabilidade e projetos de engenharia para a realização. A destinação contempla ainda a possibilidade de formação de parcerias público-privadas, ou mesmo a complementação de recursos dos orçamentos de estados e prefeituras. Como a burocracia no Brasil é outro obstáculo a ser vencido, é importante que os governantes e gestores do transporte público não percam mais tempo, diante das alternativas colocadas para a mudança qualitativa na mobilidade dos brasileiros. Faz tempo que a população espera na fila para sair desse atraso.
A primeira chamada do governo federal para os projetos segue aberta até o próximo dia 10 de novembro, e outra deve ser anunciada em breve. A integração entre os níveis de governo tem funcionado em Pernambuco, entre o Recife e Brasília. Resta torcer para que continue operativa, e se espalhe para os municípios, em especial na RMR, para desafogar o cotidiano emperrado que atrapalha a vida dos cidadãos.