POBREZA

Abaixo da linha de dignidade

Com quase um terço da população vivendo com R$ 21 por dia, e 6% com apenas R$ 6 por dia, o Brasil continuou vergonhosamente desigual em 2022

Cadastrado por

JC

Publicado em 08/12/2023 às 0:00
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Dados referentes ao ano passado, divulgados esta semana pelo IBGE, retratam a permanência da desigualdade que marca a sociedade brasileira – e o cenário até que melhorou, devido aos gastos de políticas compensatórias no ano de eleição presidencial, e à recuperação da economia depois da pandemia. Apesar disso, os números continuam alarmantes, como o JC trouxe na edição de ontem. Com dez milhões de pessoas a menos em situação de pobreza, o contingente ainda estava acima de 67 milhões, e 6,5 milhões a menos na extrema pobreza ainda deixaram mais de 12 milhões nessa condição de miséria. Para efeitos estatísticos, a linha da pobreza é considerada para quem recebe menos de R$ 21 por dia, enquanto, para a pobreza extrema, a divisória é de R$ 6 por dia.
A vulnerabilidade econômica e social permanece um dos traços coletivos de um país que derrapa, há décadas, para alcançar o esperado desenvolvimento. Para várias gerações de brasileiros, o futuro chegou e passou sem redenção – à revelia das promessas de governantes que asseguravam um futuro diferente. A condição indigna de vida para milhões de habitantes aponta uma nação na qual o cotidiano é um pesadelo que não muda. O quadro estrutural depende de aportes emergenciais para essa população à margem da economia, e muitas vezes, até, da assistência pública. Se não fossem os benefícios concedidos, o percentual de brasileiros na pobreza, em 2022, teria sido maior, alcançando mais de 35% da população, e o de miseráveis superaria 10%.
A indignidade é maior para aqueles de menor faixa etária. A juventude – o futuro do país – concentra boa parte dos chamados desfavorecidos. Quase a metade das crianças com 14 anos ou menos vivia na pobreza no ano passado. Como falar de desenvolvimento e superação da desigualdade, enquanto a geração mais nova do presente se depara com tamanho disparate? Para os jovens de 15 a 29, o panorama não é menos desafiador: mais de um terço dos que estão nessa faixa se encontravam abaixo da linha de pobreza, assim como cerca de 15% dos idosos no Brasil. Há longo caminho a ser percorrido para cuidar de um futuro que se deteriorou muito rapidamente, sem que o poder público e a sociedade se dessem conta da gravidade da dívida social acumulada.
A desigualdade regional também segue intocada. Mais da metade dos miseráveis e acima de 40% dos pobres brasileiros moram no Nordeste. O que reforça a necessidade de políticas de cunho diferenciado para incentivar o desenvolvimento regional, na direção do equilíbrio federativo. O bolsão de pobreza nordestina, uma vez devidamente abordado, pode dar lugar a um período de crescimento e prosperidade para todo o país. A visão sistêmica da economia não deve minimizar o problema da desigualdade – pelo contrário, é saindo do atoleiro da disparidade regional que o Brasil, em sua unidade, terá condições de ganhar impulso para um ciclo sustentável de bem-estar para a população.

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