DESIGUALDADE

Elite brasileira ganha mais

Aumento da concentração de renda beneficiou os poucos mais ricos do país nos últimos anos, alargando o fosso social

Cadastrado por

JC

Publicado em 18/01/2024 às 0:00

A parcela dos 0,01% mais ricos do Brasil, equivalente a cerca de 15 mil pessoas, quase dobrou o rendimento médio entre 2017 e 2022, passando de uma renda mensal de R$ 1,1 milhão para R$ 2,1 milhões. Na fatia dos 0,1% mais abastados – de um para cada mil cidadãos – equivalente a pouco mais de 150 mil indivíduos, a renda média por mês aumentou 87%, de R$ 235 mil para R$ 441 mil. Entre os 1% mais ricos, o aumento também foi expressivo, alcançando 1,5 milhão de pessoas: com 67% de crescimento, a renda mensal passou em média de R$ 52 mil para R$ 87 mil nesse período. Para os 5% da elite, 7,6 milhões de indivíduos, a renda média variou de R$ 19 mil em 2017 para R$ 29 mil em 2022, uma alta de 51%. Quem está no topo da pirâmide, não teve do que reclamar.
Enquanto isso, na parte de baixo, 95% da população, ou 146 milhões de pessoas em 2022, viram a renda média variar 33%, de R$ 1.748 a R$ 2.332 por mês, pouco acima da inflação. O valor é 37 vezes menos do que recebem os 1% mais ricos, ou 189 vezes menos do que os 0,1% de cima, ou ainda, 900 vezes menos do que os 15 mil que integram a elite da elite nacional. Os números foram divulgados pela Fundação Getúlio Vargas, e possuem como base o detalhamento das informações apuradas no Imposto de Renda, pela Receita Federal. Trata-se, portanto de um retrato oficial da desigualdade, a partir de dados sobre o tributo mais mencionado para reduzir a desigualdade.
A concentração de renda descortinada é ainda pior por ter se tornado mais aguda em apenas cinco anos, durante os quais as restrições de uma pandemia parecem não ter afetado a minoria mais rica. O que confirma que o trauma da Covid, do ponto de vista econômico, foi severo para os mais pobres, que tiveram que se virar como podiam diante dos bloqueios de uma conjuntura de cabeça para baixo no mundo inteiro, até que as vacinas fizessem o seu papel. Do lado de cima, a parcela da renda nacional que ficou com os 1% mais ricos saltou de 20% para quase 24% nesse breve tempo, alargando o fosso da desigualdade numa nação já historicamente desigual. Ou seja, no recorte temporal recente, o quadro social foi agravado, no Brasil, em função do fortalecimento da concentração de renda.
O cenário brasileiro certamente não é estranho aos participantes do Fórum de Davos, em andamento. A desigualdade já vem sendo apontada, há alguns anos, como o principal problema da economia global. Para os gestores públicos daqui, e os membros do Judiciário e do Legislativo, sobram evidências de que não deve haver outra prioridade: a redução da desigualdade, com menor concentração de riqueza, é uma emergência nacional.

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