Embora a presença do presidente da República envolva sempre a relevância política de modo incontornável, a visita de Lula a Pernambuco significou a renovação da expectativa em torno de grandes projetos estruturadores. Para um estado com a economia precisando de impulsos, investimentos de porte como a Refinaria Abreu e Lima e a Escola de Sargentos do Exército podem representar importantes indutores do desenvolvimento. Os números estimados de geração de empregos se contam em dezenas de milhares, o que dá uma ideia da dimensão dos empreendimentos. Mas até que se tornem realidade, a liberação de recursos, os trajetos da burocracia e a aplicação do dinheiro de forma célere e sem desvios, como no inglorioso passado da refinaria, configuram um caminho em que o otimismo deve ser temperado pelo ceticismo, à espera dos resultados prometidos.
A ampliação da unidade de refino poderá receber até R$ 8 bilhões investidos, gerando 10 mil empregos diretos e 30 mil, indiretos. Na nova fase, o dever do governo federal e dos que coordenarem a execução das obras é aprender com os erros para não se repetir o fiasco – e o assalto aos cofres públicos – do passado. Perto de fazer uma década da inauguração, a refinaria se prepara para o futuro, com o objetivo de empregar mais gente, produzir mais e garantir mais competitividade ao país e a Pernambuco. Em 2028, a previsão é que sejam processados 260 mil barris de petróleo – por dia – na Refinaria Abreu e Lima, conhecida pela sigla Rnest. A capacidade atualmente é de 100 mil barris por dia.
A construção de uma base militar voltada para a formação de quadros de excelência, por sua vez, parece ter deixado o front da polêmica e da indefinição, para ganhar as manchetes da decisão, com a assinatura do termo de compromisso entre Lula e Raquel Lyra. O anúncio do presidente é de investimentos da ordem de R$ 1,8 bilhão, com 11 mil empregos diretos gerados – portanto, até mais que a refinaria. O destaque da Escola de Sargentos como polo de educação e inovação no Nordeste, sem menosprezar o aspecto da localização para a valorização ambiental, através de medidas compensatórias à construção, reforça a vocação pernambucana para acolher projetos relacionados ao conhecimento, a exemplo do Porto Digital, no Recife, conhecido no mundo inteiro. O empreendimento militar promete desmatar menos, e impactar mais a vida na região, em Paudalho, na Zona da Mata, e cidades vizinhas.
A visita do presidente e sua comitiva de ministros, com a presença da governadora Raquel Lyra e do prefeito do Recife, João Campos, nos eventos, também descortina otimismo. É muito melhor quando a população vê governantes de vários níveis, de posições partidárias divergentes, afinando discursos e procurando mostrar que trabalham juntos pelo bem coletivo. Do contrário, a política se transforma em obstáculo, ao invés de pavimentar consensos acima das disputas eleitorais, em benefício das inúmeras demandas do povo que os gestores apenas representam.
