Os potenciais de crescimento econômico e desenvolvimento do continente africano têm sido alvos do interesse da China, que aproveita o vácuo deixado pelo Ocidente. O último presidente dos Estados Unidos a colocar os pés na África foi Barack Obama, nem Donald Trump nem Joe Biden se dignaram a ir lá, assim como a imensa maioria dos líderes europeus. A cada três anos, pelo menos, os chineses promovem reuniões de cúpula com os países africanos. Para tirar o atraso e tentar recuperar o terreno perdido, Biden fez no final de 2022, em Washington, um encontro com 49 nações da União Africana, num esforço retardatário de convencimento pela parceria com os norte-americanos. “Os Estados Unidos estão com tudo no futuro da África”, discursou. Para atingir esse futuro, a concorrência será alta. No ano anterior, em 2021, o comércio da China com os africanos movimentou 254 bilhões de dólares – praticamente o quádruplo dos 64 bilhões do comércio da África com os EUA.
O papel da África no cenário global tende a crescer por uma série de fatores, entre os quais, o entrosamento com as grandes potências mundiais. É nessa perspectiva que o Brasil deve se voltar para o outro lado do Atlântico, resgatando raízes históricas e culturais e preparando relações econômicas cada vez mais convergentes. Nesta quarta, o presidente Lula chega ao Egito para uma visita de dois dias, com pautas estratégicas misturadas à crise na fronteira com a Faixa de Gaza, ocupada e bombardeada há quatro meses pelo governo de Israel, após o ataque terrorista do Hamas. Os egípcios estão entre os maiores importadores de produtos brasileiros na África, e a passagem de um presidente da República pelo país das pirâmides não pode ser desperdiçada, por mais que a demanda política da Liga Árabe se insinue. Espera-se que a pauta de Lula seja mais ampla do que o conflito em Gaza. O Egito tende a ser um distribuidor importante dos produtos do Brasil, não somente para a África, mas também para o Oriente Médio.
Na Etiópia, Lula irá discursar no encontro de cúpula da União Africana, que integra o G20, presidido no momento pelo Brasil. Temas inescapáveis como a fome – persistente na África como no Brasil – terão destaque, mas é preciso avançar além dos diagnósticos repetidos desde a primeira gestão petista no Planalto. A visão de futuro que une brasileiros e africanos passa pela estratégia de enfrentamento aos efeitos das mudanças climáticas em curso, por exemplo, e o papel crucial que ambos detêm para a manutenção da biosfera e a sobrevivência das espécies no planeta. No cabo-de-guerra entre chineses e norte-americanos, o Brasil e a África devem se mostrar mais próximos, em convergências que têm tudo para beneficiar as populações dos dois lados – e se expandir para o resto da América Latina – além de trazer melhores condições de sustentabilidade para toda a humanidade.