Quase a totalidade dos pais e mães afirmaram ser importante a participação de seus filhos e filhas em atividades culturais, para o desenvolvimento individual e o desempenho na escola. O resultado está em levantamento da Fundação Itaú, em parceria com o Instituto Datafolha. Dois terços dos indivíduos de 16 a 65 anos que foram escutados para a pesquisa Hábitos Culturais possuem filhos, e é sobre essa fatia que os dados se referem: 97% acreditam no valor das atividades culturais, e 95% julgam que a participação cultural eleva o desempenho escolar.
A importância da cultura é compreendida pelos entrevistados de todas as classes sociais, com variações de 91% a 97%. A influência positiva para as relações familiares e sociais também foi apontada por mais de 90%. Para a coordenadora do Observatório de Pesquisas em Educação e Cultura da Fundação Itaú, Esmeralda Correa, a percepção dos pais e mães corrobora a necessidade de integração entre educação e cultura através de políticas públicas que não desprezem o poder de tal articulação.
Vale notar que outros aspectos relevantes de associação com a vivência cultural não receberam a mesma resposta maciça dos entrevistados. Sempre no universo dos que possuem filhos, 54% afirmaram ver a influência para a criatividade, 38% disseram que as atividades culturais contribuem para a formação do autoconhecimento, 37% enxergaram impacto no desenvolvimento da empatia, mesmo percentual em relação à cidadania, e 35% relacionaram ao engajamento e senso crítico. A coordenadora observa, corretamente, um vácuo nos currículos escolares, que não aproveitam o potencial das atividades culturais para “o desenvolvimento de todas as competências de uma criança, adolescente e jovem”.
A análise da coordenadora toca num ponto primordial: a possibilidade de utilização das escolas públicas na redução da desigualdade cultural, pela oferta de atividades gratuitas para os estudantes cujas famílias não têm como suprir essa ligação, como a parcela mais rica da população o faz, em atividades pagas fora do ambiente escolar. Na prática, as políticas públicas integradas de educação e cultura também cumprem a função de dinamização das atividades culturais, seja na promoção dos artistas e produtores culturais de diversas áreas, seja na viabilização de projetos que, levados às escolas, ganham escala e rentabilidade. Da mesma forma, as instituições privadas de ensino podem levar mais atividades culturais para seus domínios, incentivando a interação da comunidade escolar com escritores e escritoras, atores e atrizes, artistas plásticos e visuais, músicos, diretores e roteiristas de teatro e cinema, além de uma vasta gama de profissionais que trabalham com a produção e a difusão da cultura.
A escola já é vista como lugar privilegiado de acesso às atividades culturais. Falta fazer dessa percepção uma realidade palpável, que seja capaz de gerar benefícios para os estudantes, professores e demais integrantes da comunidade escolar, bem como as famílias dos alunos. A economia criativa, por sua vez, tem muito a contribuir para fazer da educação um amplo portal de conhecimento, turbinado pela sensibilidade estética e a razão crítica.