ÔNIBUS SEM CONTROLE

Tragédia expõe condição de transporte

Usuários em choque voltam a reclamar dos coletivos em circulação na Região Metropolitana, depois das mortes na procissão

Cadastrado por

JC

Publicado em 02/04/2024 às 0:00
Charge 23/11/23 - THIAGO LUCAS/SJCC

A precariedade dos veículos é uma queixa constante dos passageiros que fazem uso de algum tipo de transporte público na Região Metropolitana do Recife. Seja no deslocamento em ônibus que parecem latas de sardinha de tão lotados, a maioria sem climatização, seja em relação à falta de manutenção exposta em mobiliário quebrado e defeitos mecânicos. Sem falar na insegurança, sempre lembrada por quem precisa realizar viagens intermunicipais ou dentro de sua cidade, enfrentando, além de todas as dificuldades de um sistema de transporte de baixa qualidade, o alto índice de violência em Pernambuco.
O descuido sem freio custou a vida de cinco pessoas, e deixou dezenas de outras feridas, algumas em situação grave, quando um micro-ônibus desgovernado desceu uma ladeira em Jaboatão dos Guararapes, e atingiu o percurso de uma procissão. A maioria conseguiu correr antes do choque, mas quem estava no fim da procissão ficou vulnerável à tragédia que causou comoção na cidade e em todo o estado. A Prefeitura confirmou que o veículo tem dez anos de uso, e apresentava problemas mecânicos, ao se dirigir para a garagem e cruzar com os fiéis pelo caminho.
De acordo com a gestão municipal, apesar do tempo de uso e dos problemas detectados, o ônibus estava apto a transitar, de acordo com as regras estabelecidas. Um laudo de inspeção do Inmetro foi feito há cinco meses, com validade de um ano. A Prefeitura garantiu que a fiscalização no serviço de transporte complementar, realizado através de concessão, é permanente. Em tal caso, seria bom que os procedimentos rotineiros nesse sentido fossem revistos, e o padrão de sua prestação à população, elevado, tanto para a satisfação dos usuários, quanto para evitar novas tragédias. A segurança e o conforto no trânsito são quase indissociáveis: sem o bem-estar mínimo, o risco para os passageiros aumenta.
O governo municipal afirma que vai intensificar a fiscalização que sempre houve. Manifestantes foram às ruas, após o sinistro na procissão, solicitar às autoridades mais fiscalização. No cruzamento das alegações oficiais com o testemunho dos usuários, uma coisa é certa: a ação fiscalizatória deve ser mais eficiente do que tem sido. Mesmo que 15 veículos tenham sido retirados de operação este ano, por não atenderem às exigências, bastou um fora das normas para matar cinco cidadãos. Apesar das imagens do interior do veículo, a Prefeitura de Jaboatão insiste em dizer que as condições de trafegabilidade do micro-ônibus eram adequadas. Difícil para a população é compreender porque é tão difícil para os governantes, de qualquer nível de governo, admitirem problemas, ou mesmo reconhecerem equívocos dignos de honestos pedidos de desculpas. A responsabilidade pública costuma se eximir das consequências pelo não feito, ou pior, pelo mal feito, no Brasil.

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