SEGURANÇA

Desorganizar o crime

Articulação para combater o crime organizado é uma das medidas urgentes para reduzir a insegurança em todo o país, de modo integrado e eficiente

Cadastrado por

JC

Publicado em 19/08/2024 às 0:00
Lula, Maduro e a Venezuela - Thiago Lucas

O Fórum Brasileiro de Segurança Pública aconteceu no Recife há poucos dias, e ressaltou a importância de políticas públicas integradas para diminuir o alcance das ações do crime organizado no Brasil. Infelizmente, a realidade que perdura mostra um cenário desafiador para as autoridades e demais profissionais da segurança pública: de um lado, penitenciárias superlotadas controladas pelos bandidos, transformadas em pontos de desenvolvimento da criminalidade, ao invés de parte essencial de um processo de recuperação e reintegração social. De outro lado, nas cidades e comunidades, o império do medo e da violência armada, em um cotidiano de tensão alimentada pela vulnerabilidade social e pelas limitações do Estado para cumprir sua missão de proteger e estimular a cidadania.
Vem da Polícia Federal e de outras instituições da segurança pública a constatação de dificuldades que começam pelo distanciamento na comunicação. A troca de informações, por incrível que pareça, não é praticada em níveis ideais, seja entre as instituições, seja entre as esferas de poder em todas as unidades da federação. Nesse ponto, talvez, lamentavelmente, o crime organizado demonstre mais coesão do que o poder público, num cenário em que a burocracia, ao invés de ajudar, atrapalha a implementação de estratégias de segurança. Sem falar na divergência política que afasta objetivos pessoais e partidários de propósitos comuns em prol do bem coletivo.
Um dos expoentes desse esforço é Ricardo Saadi, da Polícia Federal, que coordena a Força Integrada de Combate ao Crime Organizado (Ficco). Em entrevista ao JC-PE, Saadi reconheceu que, apesar de os estados já contarem com a presença da Ficco, elevando os resultados da inteligência policial, o desempenho é irregular, variando de um lugar para outro. “O resultado não vai vir de forma imediata, mas precisamos entender como fazer uma política de segurança correta”, disse. De fato, a compreensão é basilar, assim como o compartilhamento de informações precisa se tornar procedimento padrão, sem duelos internos no aparelho estatal da segurança pública. Afinal, a população espera resultados imediatos, e não mais promessas que se renovam a cada ciclo de poder. Não por acaso, a segurança é um dos focos da campanha eleitoral este ano, levantando a bola para as candidaturas a prefeituras e câmaras parlamentares municipais se pronunciarem a respeito de sua contribuição no processo. Os brasileiros não suportam mais o domínio do crime e a rotina da violência.
Das 88 organizações criminosas mapeadas no país, 53 agem no Nordeste, uma região tomada pela insegurança, tanto quanto pela pobreza e pela miséria. Por isso o governo federal tem anunciado que o Nordeste será a primeira região a receber um projeto-piloto de recuperação dos territórios ocupados pela criminalidade. A tutela do crime em comunidades representa um fracasso da gestão pública e da nação, que se vê à mercê de um poder paralelo e ilegítimo dirigindo os destinos coletivos, mesmo que em escala comunitária. Para reverter isso, a articulação é primordial, e deve ser a regra na gestão da segurança pública.

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