A pandemia de coronavírus fez máscaras cirúrgicas descartáveis se tornarem itens raros no mundo. Consequentemente, a proteção de profissionais de saúde que estão na linha de frente dessa batalha ficou comprometida, se tornando mais um dos muitos problemas que o mundo enfrenta diante desse inimigo invisível, que é letal e se espalha com grande facilidade. As soluções, porém, começam a surgir. A partir da união de forças de profissionais de saúde e profissionais de tecnologia há pouco menos de uma semana, um equipamento de proteção individual (EPI) para médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e fisioterapeutas que têm contato com casos suspeitos ou confirmados da covid-19 começou a ser produzido no Recife.
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Trata-se do face shield, uma espécie de máscara, ou na tradução literal, um escudo facial. O equipamento protege completamente o rosto, evitando que gotículas de saliva de pacientes contaminados tenham contato com áreas expostas do rosto e até mesmo com as máscaras descartáveis. O face shield pode ser higienizado e reutilizado, se tornando um aliado ainda mais eficaz em tempos de escassez de material.
O primeiro passo para a produção deste EPI foi a união de forças. O fisioterapeuta do Hospital Getúlio Vargas e professor da Universidade Católica de Pernambuco, Nelson Moraes, foi colocado em contato com o grupo Hardware PE, formado por engenheiros, empresários, estudantes e pesquisadores da área de tecnologia, que trabalham com a criação de materiais utilizando impressoras 3D.
“Eu vinha conversando com um amigo sobre soluções e formas de ajudar e, domingo (22), ele me colocou em um grupo do WhatsApp com vários engenheiros e empresários que estavam se disponibilizando para ajudar os hospitais. Ao entrar no grupo, me apresentei, coloquei as necessidades que tínhamos, principalmente as de EPI, e a primeira ideia que eles compraram foi essa do protetor facial”, contou Nelson Moraes, em entrevista por telefone ao Jornal do Commercio.
Normalmente, os profissionais de saúde utilizam máscaras descartáveis, óculos e toucas, além de luvas. “Mas parte do rosto fica descoberta, como a testa, parte da bochecha, embaixo dos olhos e essas regiões também podem ser contaminadas”, disse. Nelson ainda destacou que o face shield pode aumentar a durabilidade das máscaras descartáveis.
“Tem também outra vantagem. A gente está com dificuldade, principalmente, para comprar máscaras com os nossos fornecedores. Boa parte deles é de fora do país e este é um problema mundial, então o material ficou escasso no mercado. Não tem. A gente utilizando o protetor facial - que não deve ser utilizado sozinho, mas associado aos outros EPIs - a máscara, por exemplo, também fica protegida e a durabilidade dela aumenta. Ou seja, em situação de escassez, além de proteger o profissional, reduz a necessidade de troca de máscaras”, detalhou.
Até o momento, apenas 12 equipamentos destes foram entregues a profissionais do Hospital Getúlio Vargas (HGV). Para atender todo o quadro de funcionários do HGV, por exemplo, que necessitam desse EPI são necessários 540. Por enquanto, a produção é lenta, mas o grupo já se articula para conseguir produzir em escala industrial e chegar também a outros hospitais da capital pernambucana. “Estamos antenados na produção para pegar mais. Quem vai lidar com paciente suspeito ou confirmado da covid-19 é quem vai usar”, disse.
“Eles compraram a ideia de uma maneira generosa e com solidariedade, que é algo importantíssimo”, destacou Nelson sobre a recepção do grupo Hardware PE. Victor Cabral, aluno do último período do curso de Controle e Automação da Escola Politécnica da Universidade de Pernambuco, é um dos voluntários que está desenvolvendo os equipamentos.
“Eu consegui fazer cerca de 20 (protetores) - a média é de 15 a 20 por dia. Ontem (terça-feira, 24), o grupo conseguiu entregar 12 peças ao Hospital Getúlio Vargas para teste e validação. Acredito que hoje (quarta-feira, 25) já tem mais, pelo menos, 30 para entregarmos”, disse.
Para construir os face shields, os voluntários utilizam impressoras 3D, folhas de acetato e elástico. O protetor é composto por três partes: uma sustentação impressa na impressora 3D, a parte que protege o rosto, que é feita com as folhas de acetato e o elástico que fixa o EPI na cabeça. A parte impressa é feita de um material chamado ABS, um plástico derivado do petróleo, bastante utilizado não só em equipamentos do dia a dia, mas largamente utilizado por quem trabalha com impressões 3D. “É um plástico resistente e que tem um custo-benefício bacana”, pontuou Victor.
A produção dos face shields utilizando as impressoras 3D, no entanto, tem a função de criar e testar o protótipo, além de atender a demanda emergencial. Mas o grupo se articula para a criação de um molde e a produção dos escudos em escala industrial.
Segundo Victor Cabral, há cerca de 20 pessoas do grupo colocando a mão na massa - imprimindo, montando, entregando e gerenciando. “O desafio está sendo produzir em uma velocidade maior. A impressora 3D é uma ferramenta fantástica para protótipos, mas em larga escala acaba sendo um gargalo. É por isso que temos outras pessoas envolvidas na fabricação deste mesmo EPI por outro processo de fabricação, utilizando um molde como se fosse forma, que reduz de horas para a minutos a produção de um escudo”, contou.
Fazer os escudos faciais chegarem a todos os profissionais de saúde de Pernambuco é um desafio dos grandes. Mas os primeiros passos já foram dados e é possível que em breve mais este equipamento de proteção individual esteja somando forças nessa linha de frente.
A partir dos protótipos criados pelos voluntários do Hardware PE, máquinas do Parque Tecnológico de Eletroeletrônicos e Tecnologias Associadas de Pernambuco (Parqtel), uma iniciativa do Governo de Pernambuco, ligado à Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação, localizado na Várzea, na Zona Oeste do Recife, vão produzir os moldes para que os equipamentos sejam feitos em larga escala.
“O projeto foi feito por um ferramenteiro do Parqtel e a TRON (uma empresa pernambucana de soluções tecnológicas) está doando os materiais para viabilizar essa produção”, contou Carmelo Bastos Filho, professor da Universidade de Pernambuco e cientista-chefe do Parqtel.
“A gente está articulando com uma rede do bem. Os makers estão fazendo uma produção para atender a parte emergencial. Estamos tentando colocar a produção para escala industrial, a expectativa é conseguir, daqui umas duas semanas, distribuir para os hospitais. As coisas estão dando certo”, disse.
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Coronavírus é uma família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus foi descoberto em 31/12/19 após casos registrados na China.Os primeiros coronavírus humanos foram isolados pela primeira vez em 1937. No entanto, foi em 1965 que o vírus foi descrito como coronavírus, em decorrência do perfil na microscopia, parecendo uma coroa.
A maioria das pessoas se infecta com os coronavírus comuns ao longo da vida, sendo as crianças pequenas mais propensas a se infectarem com o tipo mais comum do vírus. Os coronavírus mais comuns que infectam humanos são o alpha coronavírus 229E e NL63 e beta coronavírus OC43, HKU1.
O Ministério da Saúde orienta cuidados básicos para reduzir o risco geral de contrair ou transmitir infecções respiratórias agudas, incluindo o coronavírus. Entre as medidas estão:
Para a realização de procedimentos que gerem aerossolização de secreções respiratórias como intubação, aspiração de vias aéreas ou indução de escarro, deverá ser utilizado precaução por aerossóis, com uso de máscara N95.