Como é o enterro de alguém morto por coronavírus?

Secretaria Estadual de Saúde (SES) fez determinações sobre o manejo de corpos de vítimas da covid-19
Maria Lígia Barros
Publicado em 16/04/2020 às 18:08
A doença já matou milhões de pessoas no mundo inteiro Foto: AMAZÔNIA REAL


O corpo é enrolado em lençol, selado em dois sacos, e posto em caixão fechado. Sem direito a velório, é transportado diretamente para o enterro. Os funcionários do necrotério, da funerária e do cemitério que fazem o manejo do cadáver usam equipamento de proteção individual (EPI) da cabeça aos pés. No máximo dez pessoas participam do sepultamento, obedecendo a distância mínima de dois metros. Sem abraços, beijos e apertos de mão. Há pelo menos duas semanas, é assim que os familiares se despedem das vítimas do novo coronavírus.

A determinação da Secretaria Estadual de Saúde (SES) de Pernambuco foi publicada no último dia 2, em nota técnica que dispõe diretrizes a serem seguidas por Unidades de Saúde, Serviços de Verificação de Óbito (SVO), Institutos de Medicina Legal (IML) e serviços funerários. As normas são válidas para óbitos de causa confirmada ou suspeita da covid-19, ou de síndrome respiratória aguda grave (Sars).

Desde o início da pandemia, a funerária Ana Lúcia Serviços Funerários, em Santo Amaro, na área central do Recife, vem registrando um aumento na demanda. Segundo o proprietário Luiz Antônio Costa, a maioria dos casos de coronavírus com que a empresa lida só é confirmada depois do enterro.

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“Quando a gente chega no hospital, alguns já têm suspeita. Dependendo, o médico coloca alguma causa pulmonar ou Sars. A gente efetua o sepultamento nas pressas tomando todas as medidas cabíveis adequadas, e dois dias depois a família entra em contato para confirmar", relatou.

Mesmo antes das orientações do Governo do Estado, o dono já adotava as medidas de segurança. “Quando começou esse surto já tínhamos os EPIs, e decidi não pagar pra ver”, contou. “Usamos luva, máscara, capote, macacão, viseira de acrílico e sapato”, citou.

Luís Alves, presidente do Sindicato das Empresas Funerárias de Pernambuco (Sindef), que representa representa 65 grupos, confirmou o crescimento da procura. “Com certeza a demanda tem aumentado", assegurou.

O representante da entidade detalhou o procedimento pelo qual passa o corpo: “Ele é mostrado ao familiar (no hospital) e lá fazem todo processo de embalagem. Já desce lacrado para o necrotério. Lá é colocado no caixão e não é mais aberto”, disse. “Todos estão sendo direcionados para o cemitério, não passa por velório”, explicou.

O processo exige uma rapidez fora do habitual. “Para que não se acumulem corpos, por causa do risco de contágio, a prefeitura do Recife estendeu o funcionamento e liberou que a gente sepulte sem necessidade do documento lavrado em cartório”, disse.

Segundo a Autarquia de Manutenção e Limpeza Urbana do Recife (Emlurb), os cemitérios públicos da cidade, onde os sepultamentos normalmente ocorrem até às 16h, tiveram horário ampliado até às 20h para enterrar exclusivamente mortos pelo vírus ou por Sars.

Entre os cinco cemitérios públicos da capital pernambucana, os de Santo Amaro e Parque das Flores são os que estão sepultando os pacientes que faleceram pelo vírus, por terem área e capacidade maior. Cada um isolou uma quadra para realizar os serviços funerários com as especificidades que requerem.

Ainda assim, se desejarem, as famílias poderão enterrar seus entes queridos nos jazigos familiares nos cemitérios de Casa Amarela, Teijipió e Várzea. A Emlurb disse que, por ora, a demanda para esses serviços está dentro do esperado.

No Morada da Paz, cemitério privado em Paulista, a tendência é a mesma. “Historicamente, a demanda dos serviços começa a acontecer em março. Não teve aumento de demanda, foi um pouco abaixo que em 2019. Abril está dentro da expectativa histórica”, revelou a diretora de mercado do Grupo Villa, Vivianne Guimarães.

A empresa tem adotado restrições mais rigorosas. Apesar de a nota técnica da SES permitir que os sepultamentos sejam acompanhados, contanto que não haja aglomeração, o Morada da Paz proíbe a participação dos familiares nas cerimônias. “O caixão vem direto para o destino final: cremação ou sepultamento”, completou.

Medidas preventivas também estão sendo tomadas nos casos de óbitos por outras causas. O tempo de duração dos velórios foi reduzido e a quantidade de pessoas segue à risca os protocolos de distanciamento social. Uma solução que tem sido buscada, declarou Guimarães, é a do velório virtual. O serviço transmite ao vivo o cerimonial por vídeo a quem não pode estar presente.

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