Menos de cinco quilômetros separam José Carlos dos Santos, 37 anos, e Ana Carolina da Silva, 43. Ele não tem endereço fixo, mas costuma dormir em uma das calçadas da Rua do Imperador, no bairro de Santo Antônio, Centro do Recife. Ela trabalha no Hospital Universitário Oswaldo Cruz (Huoc), em Santo Amaro. De maneiras diferentes, são acolhidos por iniciativas de voluntários, movimentos sociais, empresários e entidades que ajudam a alimentar o corpo neste período da pandemia de covid-19. Até sábado, Pernambuco tinha 12.470 infectados pelo novo coronavírus, com 972 mortes.
Toneladas de comida estão sendo arrecadadas e distribuídas para pessoas em situação de vulnerabilidade social. “Antes desse coronavírus o pessoal das comunidades vinha quase todos os dias. Trazia um pão, um café, uma sopa. Agora quase não aparecem”, diz José Carlos, referindo-se a grupos que costumam distribuir alimentos pelas ruas do Centro.
A saída para José Carlos e outras centenas de pessoas tem sido as marmitas entregues diariamente no Armazém do Campo Recife, na Rua do Imperador, numa ação conjunta do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e da Arquidiocese de Olinda e Recife.
Técnica de enfermagem, Ana Carolina cuida de pacientes infectados pela covid-19. Trabalha no Huoc há 22 anos. Quando está de plantão, mal tem tempo, assim como a maioria dos colegas, de parar para comer. E a lanchonete que havia dentro da unidade de saúde está fechada.
É quando chega o lanche organizado pela fonoaudióloga Helena Pinto e mais 20 voluntários. No início da pandemia ela criou a ação batizada de ComVida para fornecer lanches aos profissionais de saúde e demais funcionários do Huoc.
“Com doação de empresas e de pessoas comuns, conseguimos 500 lanches por dia. Precisamos de um freezer ou geladeira para guardar as doações que têm que ficar refrigeradas”, conta Helena. Sete padarias, uma por dia, fornecem 30 lanches. Outras 13 empresas de alimentação contribuem, de restaurantes a mercadinhos ou pequenos produtores de brownie, por exemplo.
“Me sinto muito acolhida. Os plantões costumam ser muito pesados. Acabamos tendo que comer rapidamente algo prático. E não tem onde. O lanche que o pessoal do ComVida prepara é um afago”, afirma Carolina. À iniciativa se juntaram quatro donos de restaurantes (Home Pizza, Papa Capim, Parraxaxá, Quina do Futuro, Chicama, Chiwake, Ponte Nova e Villa Cozinha de Bistrô). Eles criaram o projeto Linha de Frente e fornecem refeições também em outras unidades de saúde.
"A população de rua é mais vulnerável à covid-19 e outros quadros infecciosos. Quem puder doar alimentos não leve só arroz, feijão, macarrão. Eles sustentam, mas não causam impacto no sistema imunológico. Frutas, verduras, legumes e hortaliças são importantes”, diz o médico nutrólogo Homero Rabelo
O Banco de Alimentos da Federação do Comércio de Pernambuco (Fecomércio) já arrecadou em todo o Estado, até sexta-feira, 185 toneladas de alimentos e produtos de higiene,suficientes para atender cerca de 150 mil pessoas carentes de 400 instituições. As doações foram entregues por empresários, comerciantes e cidadãos nos pontos do banco, nas cidades de Recife, Caruaru, Garanhuns, Arcoverde e Petrolina. Somam-se a elas o que foi recolhido pela campanha Compra Local, da AD Diper com o Sesc.
“É um momento de envolvimento e engajamento de todos os setores da sociedade. Temos confiança de que tudo isso vai passar e de que vamos contribuir para que as pessoas que mais precisam continuem assistidas”, diz o presidente da Fecomércio, Bernardo Peixoto.
Em outra frente, 14 donos de empresas criaram o grupo Empresários por Pernambuco, com o objetivo de ajudar famílias vulneráveis por causa do novo coronavírus. A meta é entregar 50 mil cestas básicas. Metade já foi repassada. Mas eles querem mais e convocam outras pessoas a aderirem.
“É importante que cada um faça a sua parte para ajudar, por isso estendemos o convite para que outras empresas abracem a causa junto conosco”, afirma Flávio Góes, conselheiro do Grupo Cornélio Brennand.
Para moradores da comunidade do Pilar, no Bairro do Recife, a ajuda veio de perto. Empresas do Porto Digital aderiram à campanha Ajude o Pilar. Foram beneficiadas 300 famílias com cestas básicas mês passado. Agora em maio estão planejando uma nova entrega, mas para isso precisam de novas adesões.
Para que mais pessoas e entidades recebam doações durante o período da pandemia do novo coronavírus, o Sistema Jornal do Commercio de Comunicação (SJCC) lançou o projeto Atitude Cidadã - Está em nossas mãos.
Até quarta-feira (13), os veículos do sistema (TV Jornal, Rádio Jornal, Jornal do Commercio, JC Online e Portal NE10) estarão publicando reportagens contando histórias de empresas e instituições que vêm desenvolvendo ações para minimizar os impactos da doença que já atingiu quase quatro milhões de habitantes no mundo, com 275 mil mortes. A culminância será com uma ampla programação na Rádio Jornal, no dia 13.
O Instituto JCPM de Compromisso Social, braço social do Grupo JCPM, é parceiro nesta campanha. Foram listadas 56 entidades, unidades de saúde, projetos ou iniciativas que necessitam de doações em Pernambuco. A lista completa está disponível aqui. É uma boa opção para quem deseja ajudar mas não sabe para onde direcionar a contribuição.
“Buscamos instituições dos mais variados segmentos, desde aquelas que atendem pessoas que vivem nas ruas a entidades que apoiam crianças com câncer ou hospitais que estão com pacientes com o novo coronavírus”, destaca a diretora de Desenvolvimento Social do Grupo JCPM, Lúcia Pontes.
A campanha Atitude Cidadã - Está em nossas mãos vai ser abordada, quarta-feira, durante toda a programação da Rádio Jornal, começando às 5h e seguindo até o último programa, Movimento, apresentado à meia-noite. Neste dia, será disponibilizado um número de telefone exclusivo para que empresários, comerciantes e pessoas da sociedade façam doações ou recebam orientações sobre a campanha.